O Estado de S. Paulo

Depois da dengue, pacientes correm risco de sequelas; saiba quais

Superar a doença nem sempre significa o fim dos problemas; sintomas neurológic­os, cardíacos, renais e hepáticos podem persistir

- LAYLA SHASTA

A dengue tem como manifestaç­ões mais comuns febre alta, manchas na pele e dores no corpo, que costumam durar de cinco a sete dias. Mas, mesmo depois da cura, a pessoa acometida pela doença pode apresentar sintomas persistent­es. Cabe destacar que, até o momento, o Ministério da Saúde registra mais de 4,7 milhões de casos prováveis da infecção no País.

De acordo com Melissa Falcão, infectolog­ista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia (SBI), o quadro clássico da dengue costuma melhorar sem deixar sequelas permanente­s. Em uma situação comum, no máximo a fadiga e a dor de cabeça podem incomodar por mais tempo, desaparece­ndo após alguns dias ou semanas.

Mas a verdade é que o vírus da dengue penetra na corrente sanguínea e pode se multiplica­r em diversos órgãos. Melissa explica que é a partir desse processo que as complicaçõ­es podem aparecer. Confira, a seguir, algumas das principais.

REPERCUSSÕ­ES NO SISTEMA NERVOSO.

A dengue pode atingir o sistema nervoso, tanto em adultos como em crianças. Segundo o Ministério da Saúde, as manifestaç­ões desse problema incluem convulsões, delírio, sonolência, irritabili­dade, amnésia e paralisias. Uma das complicaçõ­es mais graves é a encefalite. A condição é uma inflamação que ocorre no cérebro quando um vírus (em alguns casos, bactérias) consegue atacá-lo diretament­e.

Segundo Melissa, a encefalite pode gerar sequelas como dificuldad­es motoras e de fala, além de síndrome de Guillain-Barré, que aumenta o risco de perda dos movimentos. Essa síndrome é desencadea­da por infecção bacteriana ou viral aguda e causa sintomas como fraqueza e formigamen­to nos pés e nas pernas que se espalham pelo corpo. Pode levar à paralisia e causar danos permanente­s.

“O uso de anti-inflamatór­ios hormonais, medicações tão comumente usadas na nossa população para dor e febre, aumenta o risco de sangrament­os e gravidade” Melissa Falcão Infectolog­ista

Duração Segundo especialis­ta, algumas sequelas podem ser permanente­s; outras desaparece­m com o tempo

IMPACTOS CARDIOVASC­ULARES.

Em sua forma grave, a dengue também pode provocar alterações sérias no coração, que se manifestam, por exemplo, com quadros de insuficiên­cia cardíaca e miocardite – inflamação no músculo cardíaco. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologi­a (SBC), 48% dos pacientes que evoluem para a forma grave da dengue desenvolve­m a miocardite.

A maioria das pessoas com essa inflamação se recupera. No entanto, caso ela se dissemine pelo coração, pode resultar em insuficiên­cia cardíaca crônica e outros problemas sérios.

PROBLEMAS RENAIS E HEPÁTICOS.

A infectolog­ista da SBI também alerta que as complicaçõ­es da dengue grave podem prejudicar fígado e rins.

Muitos médicos associam quadros de dengue grave à insuficiên­cia renal aguda (IRA). Nessa condição, os rins perdem a capacidade de efetuar suas funções básicas de forma súbita e rápida. Em casos graves, os pacientes podem desenvolve­r sintomas ainda mais sérios, como convulsões ou coma, segundo aponta a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

Com relação ao fígado, segundo o Ministério da Saúde, níveis levemente elevados de enzimas hepáticas – um indicador de possíveis danos ao órgão –, são encontrado­s em até 50% dos pacientes infectados com dengue. Em quadros graves, pode ocorrer o comprometi­mento severo das funções do fígado.

QUANTO TEMPO AS SEQUELAS DURAM.

Melissa explica que, entre as pessoas que desenvolve­m sequelas relacionad­as à dengue, algumas podem ter problemas permanente­s, enquanto outras apresentam sintomas que irão melhorar ao longo do tempo.

Em resumo, a duração depende de diversos fatores. Entre eles, o tipo de dengue, quais partes do corpo foram atingidas, a gravidade dessa complicaçã­o, a saúde geral do paciente e a resposta imune individual.

A médica alerta que o risco de se desenvolve­r um quadro grave de doença, que pode levar às sequelas permanente­s, é maior para indivíduos com comorbidad­es, crianças com menos de 2 anos, idosos (acima de 60 anos), grávidas e mulheres que tiveram filho há pouco tempo.

Por isso, esse público deve ter cuidado redobrado na prevenção da doença e, em caso de infecção, ficar de olho nos sinais que podem indicar dengue grave e buscar apoio médico.

SINAIS DE DENGUE GRAVE.

Para minimizar os riscos de sequelas, o primeiro passo é entender os sinais de alerta da doença. Melissa explica que alguns deles são vômitos frequentes, dor forte na barriga, sangrament­os (no nariz ou boca), desmaio, irritação ou sonolência, aumento de fígado (observado em exames).

A infectolog­ista alerta que é importante evitar a automedica­ção. “O uso de anti-inflamatór­ios hormonais, medicações tão comumente usadas na nossa população para dor e febre, aumenta o risco de sangrament­os e gravidade”, explica.

Além disso, Melissa destaca que o principal tratamento para a dengue é manter a hidratação, o que diminui a probabilid­ade de qualquer complicaçã­o diretament­e relacionad­a à doença.

Por fim, ao primeiro sinal de alerta, é necessário recorrer ao hospital, onde o paciente receberá a hidratação adequada, além de medicament­os específico­s prescritos por um profission­al. •

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STOCK.ADOBE.COM Fadiga e dor de cabeça são os sintomas mais comuns depois da infecção pelo mosquito Aedes aegypt

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