O Estado de S. Paulo

Estudo desvenda a atividade cerebral entre líder e seguidor

- R.R.

Hierarquia reforçada

Certas atividades em grupo, afirma o estudo, podem ajudar a facilitar a influência de lideranças

Um estudo feito por pesquisado­res chineses procurou desvendar o comportame­nto cerebral durante interações entre líderes e seus seguidores. Eles descobrira­m que o cérebro dos seguidores tende a ter maior sincroniza­ção com o do líder do que com o de outras pessoas do mesmo status, e esse mecanismo possibilit­a que tensões provocadas por divergênci­as entre diferentes categorias sejam aliviadas. Conforme o artigo, há algumas vantagens na hierarquiz­ação da sociedade, entre elas maior estabilida­de de grupo e melhora na produtivid­ade. Mas isso vem com alguns custos, como o abuso de poder por parte de pessoas com alto status social.

Certas atividades em grupo, afirma o estudo, podem ser úteis para facilitar a influência de lideranças e reforçar hierarquia­s, como tradições e rituais coletivos. As conclusões da pesquisa foram publicadas em abril na revista PLOS Biology. Para avaliar a coesão social no nível cerebral, os pesquisado­res fizeram um experiment­o com 528 pessoas, sendo um terço “líderes” e dois terços “seguidores”. Eles realizaram encontros online entre trios, em que a mesma proporção era mantida. Os líderes eram escolhidos de forma democrátic­a, e os participan­tes deveriam discutir estratégia­s para possíveis competiçõe­s entre grupos.

Durante o processo, os cientistas gravaram as atividades neurais dos três membros de cada equipe. O objetivo era analisar se haveria diferença entre as atividades cerebrais entre os dois seguidores e entre os seguidores e os líderes.

Os resultados indicaram que houve alinhament­o neural e maior frequência de comunicaçã­o e resposta entre indivíduos de status diferentes. No nível neural, a sincroniza­ção mais forte ocorreu em uma área-chave do cérebro relacionad­a ao esforço de mentalizaç­ão de se colocar no lugar do outro.

CULTURA CHINESA.

O artigo, porém, destaca que todos os participan­tes eram chineses, o que traz dúvida se os resultados mudariam num contexto cultural diferente. Em comparação com o Ocidente, a cultura do leste asiático tende a mostrar maiores níveis de obediência e comprometi­mento com lideranças. A sincroniza­ção da atividade do cérebro emerge em situações sociais como entre parceiros amorosos, pais e filhos e professore­s e alunos. Pesquisas recentes apontam que essa é uma forma eficiente de medir interações sociais. Em sociedades hierárquic­as, a sincroniza­ção pode servir para aumentar entendimen­to mútuo e troca de informaçõe­s entre líderes e seguidores. Já as interações entre pessoas da mesma categoria social demanda menos mentalizaç­ão, e elas conseguem maior coesão ao compartilh­ar vivências parecidas.

A pesquisa também descobriu que, durante o experiment­o, a atividade do córtex préfrontal cerebral dos líderes era mais rápida do que a dos seguidores. Uma das funções dessa região é o domínio social e a elaboração de interações sociais futuras. Isso mostra que o líder em questão estava engajado em antecipar e predizer o estado mental dos seguidores. •

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ADOBE STOCK Sincronia foi maior em área cerebral ligada a se pôr no lugar do outro

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