Sob pressão, Boeing se compromete a rever padrões de produção
Empresa, que também é investigada pelo Departamento de Justiça dos EUA, apresenta plano a órgão de aviação
“Trata-se de uma mudança sistêmica, e há muito trabalho a ser feito” Mike Whitaker
Administrador da FAA
“Nossa equipe está comprometida com a execução de cada elemento do plano” David Calhoun
CEO da Boeing
Os principais executivos da Boeing entregaram nesta semana à Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), nos EUA, um plano para melhorar a qualidade e a segurança de seus aviões. A empresa prometeu abordar questões sistêmicas que prejudicaram sua reputação e colocaram a fabricante de aeronaves no centro de várias investigações federais.
A Boeing detalhou essas e outras medidas durante uma reunião de três horas com o administrador da FAA, Mike Whitaker, na qual a empresa apresentou um “plano de ação abrangente” que o órgão regulador havia solicitado em fevereiro.
A Boeing teve 90 dias para desenvolver um plano de melhorias abrangentes de segurança depois que um painel, conhecido como “plugue da porta”, explodiu em um jato 737 Max 9 que voava a cerca de 16 mil pés em 5 de janeiro. Ninguém ficou gravemente ferido durante o voo.
O Departamento de Justiça também abriu uma investigação criminal sobre o episódio de 5 de janeiro. Uma investigação preliminar realizada pelo National Transportation Safety Board sugeriu que o avião Max 9 poderia ter saído da fábrica da Boeing em Renton (Washington) sem o painel aparafusado.
A FAA disse em um comunicado que os líderes “seniores” da agência “se reuniriam com a Boeing semanalmente para analisar suas métricas de desempenho, progresso e quaisquer desafios que estejam enfrentando na implementação das mudanças”.
‘COMPROMISSO FORTE’
.A Boeing também foi obrigada a abordar as conclusões de um painel de especialistas convocado pela FAA ainda no ano passado, que revelou problemas persistentes com a cultura de segurança da empresa. Whitaker disse que a Boeing aceitou todas as recomendações feitas pelo painel no relatório.
“Precisamos ver um compromisso forte e inabalável com a segurança e a qualidade que perdure ao longo do tempo”, disse Whitaker, em uma coletiva de imprensa. “Trata-se de uma mudança sistêmica, e há muito trabalho a ser feito.”
Em um comunicado, a Boeing disse que o plano de ação que entregou à FAA foi baseado no feedback que recebeu dos funcionários e em conversas com o órgão regulador. A Boeing forneceu alguns detalhes adicionais sobre as medidas que estava tomando para melhorar a qualidade, mas não tornou público o plano de segurança.
Em um e-mail enviado aos funcionários, Stephanie Pope, chefe da unidade de aviões comerciais da Boeing e diretora de operações, disse que a empresa está investindo em treinamento, simplificando planos e processos, eliminando defeitos e melhorando a qualidade e a segurança.
A empresa fez algumas mudanças, incluindo a expansão do treinamento para novos contratados de 10 semanas para 14 semanas; ajudando os gerentes a passar mais tempo no chão de fábrica e menos tempo em reuniões; aumentando as inspeções na Boeing e em um dos principais fornecedores; além de encomendar mais ferramentas e equipamentos.
“Muitas dessas ações estão em andamento e nossa equipe está comprometida com a execução de cada elemento do plano”, disse o CEO da Boeing, David Calhoun, em um comunicado. “É por meio desse processo contínuo de aprendizado e aprimoramento que nosso setor tornou a aviação comercial o meio de transporte mais seguro. As medidas que estamos tomando hoje fortalecerão ainda mais essa base.”
ACORDO DESRESPEITADO
.A Boeing também enfrenta possíveis repercussões legais de acidentes envolvendo seus aviões. O Departamento de Justiça disse neste mês que a Boeing violou um acordo de 2021 firmado depois que dois acidentes com aviões 737 Max mataram centenas de pessoas em 2018 e 2019, e poderia ser processada por uma acusação criminal de conspiração para fraudar a FAA.
O Departamento de Justiça constatou que a Boeing não havia “projetado, implementado e aplicado” um programa de conformidade e ética que era uma condição do acordo. A empresa planeja contestar a determinação do departamento.
O acordo de 2021 foi criticado por ser muito brando com a Boeing e por ter sido firmado sem consultar as famílias das 346 pessoas mortas nos acidentes com o Max, que ocorreram na Indonésia e na Etiópia e levaram à paralisação da frota do 737 Max por 20 meses. •