O Estado de S. Paulo

Conta do governo com as enchentes no Sul já chega a R$ 20 bilhões

- DANIEL WETERMAN

A calamidade no Rio Grande do Sul exigiu do governo federal a liberação de R$ 20 bilhões em “dinheiro novo” do Orçamento até agora. O valor pode aumentar, pois não há um limite estipulado para as ações nem um cálculo do impacto real da tragédia na vida das pessoas, empresas e na infraestru­tura do Estado.

O gasto, mesmo fora da meta de resultado primário (neste ano, a meta do governo é zerar o déficit, com tolerância de 0,25% do PIB), deve impactar no déficit geral das contas públicas e exigir esforços maiores para controlar o endividame­nto, que cresce e será impactado pelas medidas de ajuda ao Rio Grande do Sul. Além disso, a tragédia deve levar o Estado a uma recessão econômica em 2024, o que também afeta a economia nacional.

“As medidas do governo são necessária­s, mas tudo isso acaba sinalizand­o um cenário bastante complicado e ainda há uma hesitação para saber o tamanho do estrago. A situação vai piorar antes de melhorar”, afirma João Pedro Leme, analista da Tendência Consultori­a.

Os R$ 20 bilhões consideram apenas as medidas que demandaram dinheiro novo do Orçamento, não previstas anteriorme­nte, como aporte para financiame­ntos a empresas, auxílio para pessoas desabrigad­as, obras em estradas e repasses para o governo e municípios gaúchos. Não inclui, portanto, as antecipaçõ­es de crédito, o refinancia­mento das dívidas e o pagamento de recursos que já estavam programado­s.

ARROZ IMPORTADO. O maior gasto é com a compra de arroz importado, cerca de R$ 6,7 bilhões. Em seguida, está o Programa Nacional de Apoio às Microempre­sas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), com aporte de R$ 4,5 bilhões. O apoio financeiro às famílias desalojada­s ou desabrigad­as

“As medidas são necessária­s, mas acabam sinalizand­o um cenário complicado” João Pedro Leme

Analista da Tendências

após as enchentes, batizado de Auxílio Reconstruç­ão, vai custar R$ 1,2 bilhão.

Para as estradas federais, até agora, foram destinados mais R$ 1,2 bilhão. O emprego das Forças Armadas no socorro às vítimas demandou R$ 1,1 bilhão no Orçamento. Há ainda repasses para Estado, municípios, seguro-desemprego e assistênci­a à saúde, entre outras despesas.

O impacto de R$ 20 bilhões considera gastos autorizado­s em um mês, de acordo com o Sistema Integrado de Planejamen­to e Orçamento (Siop), do governo federal. O valor está próximo ao gasto com o auxílio emergencia­l e às transferên­cias para o Estado e municípios no Rio Grande do Sul durante a pandemia de covid-19 (R$ 21,7 bilhões).l

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