O Estado de S. Paulo

Ninguém sabe como o veredicto do ex-presidente afetará eleição

- PHILIP BUMP É COLUNISTA

Radicaliza­ção

Trump convenceu sua base de eleitores de que nada tem origem em suas próprias falhas

Nunca um ex-presidente americano havia sido condenado por um crime. Nunca antes um expresiden­te americano havia sido indiciado. Nunca antes a casa de um ex-presidente havia sido revistada por agentes federais. A pergunta que surge é como esse veredicto pode afetar as ambições políticas de Donald Trump. E a resposta é insatisfat­ória: ninguém sabe.

Há alguns motivos para o suspense. Um deles é que os apoiadores de Trump talvez não sejam afetados por notícias negativas sobre seu candidato preferido. Nesse caso,

Trump e seus aliados trabalhara­m para enquadrar o julgamento em Manhattan como infundado ou politicame­nte tendencios­o.

O mesmo Trump que convenceu a maioria de seu partido de que a eleição de 2020 foi roubada, convenceu uma grande parte de sua base de que nada disso tem origem em suas próprias falhas.

PESQUISA. Por outro lado, há algumas sugestões de que sua base não está totalmente indiferent­e. Na quinta-feira, a Marist University divulgou pesquisa que perguntou aos americanos se o veredicto de culpado mudaria seus votos na eleição presidenci­al de novembro: 17% dos eleitores registrado­s disseram que estariam menos propensos a votar em Trump. O mesmo aconteceu com 7% dos que se identifica­m como apoiadores de Trump.

Agora, o outro lado da moeda: a mesma pergunta da pesquisa indicou que aproximada­mente o mesmo número de eleitores disse que o veredicto de culpado os tornaria mais propensos a apoiar Trump. Isso inclui um quarto dos apoiadores de Trump.

Você pode ver as lacunas nessa pergunta. Significa muito o fato de que muitos dos que mudariam o voto são partidário­s ou apoiadores de Trump? Existem realmente republican­os que não votariam em Trump até ele ser condenado por um crime? O suficiente para compensar os republican­os que votariam nele, mas que agora não votam mais? Isso é significat­ivo? Ninguém sabe.

Não é como se houvesse uma linha clara entre “votar em alguém” e “não votar em alguém”, para a qual os eleitores se dirigem ou se afastam até o dia da eleição. Muitos desses apoiadores de Trump podem passar de “empolgados” para “determinad­os a votar nele”. Alguns desses 7% podem passar de “animados para votar nele” para um “pelo menos ele não é o presidente Biden”. A “probabilid­ade” de votar é muito vaga, especialme­nte tão longe da votação.

INDÍCIOS. Temos alguns precedente­s. Em outubro de 2016, cerca de um mês antes da eleição, o Washington Post informou que Trump havia sido gravado, sem se dar contar, fazendo comentário­s sobre apalpar mulheres durante o programa Access Hollywood. Foi um choque para sua campanha.

Uma semana depois, a Fox News divulgou uma pesquisa perguntand­o se os comentário­s feitos por Trump eram um “fator decisivo” para os eleitores. As opiniões foram praticamen­te divididas, mas 15% dos republican­os disseram que sim.

Talvez muitos desses 15% tenham ficado em casa em novembro. Talvez tenham votado em Hillary Clinton. Ou talvez, ao longo das quatro semanas seguintes, suas opiniões sobre o incidente tenham se acalmado. De qualquer forma, Trump obteve votos suficiente­s para vencer a eleição.

Novamente, esse é um território desconheci­do, como todas as pessoas disseram pelo menos uma vez nos últimos três anos. Pode ser que isso mude as pesquisas de opinião no curto prazo, que essa mudança se mantenha até novembro. Talvez a determinaç­ão de culpa do júri seja o que sacramente a derrota de Trump. Mas não sabemos. Não temos como saber. E qualquer um que sugira que sabe está errado. •

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