O Estado de S. Paulo

É ‘justo e natural’ um nome do Nordeste presidir o PT, diz Gleisi

Atual presidente do partido, deputada federal pelo Paraná deverá ser integrada ao primeiro escalão do governo Lula

- VERA ROSA

A eleição que vai renovar o comando do PT ocorrerá somente em junho de 2025, mas a disputa já começou nos bastidores, dando sinais de racha no grupo majoritári­o do partido, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT, afirmou que trabalhará pela unidade, mas considerou justa a pretensão de José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara, de concorrer à sua cadeira.

“Eu acho justo e natural ter um nome do Nordeste pela importânci­a política da região para o PT. Foi lá que o presidente Lula teve a maioria dos votos em 2022 e é lá que temos quatro governador­es”, disse Gleisi.

Lula já manifestou preferênci­a pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva, para presidir o PT e quer Gleisi no Ministério. Está preocupado, no entanto, com os rumos do PT porque é essa nova direção que vai comandar a campanha nas eleições de 2026, quando ele pretende disputar mais um mandato.

Auxiliares de Lula avaliam que o embate de 2026 contra o candidato de Jair Bolsonaro tende a ser “duríssimo”. Embora o ex-presidente esteja inelegível até 2030, pesquisas indicam que ele ainda mantém força política.

É nesse cenário que a renovação da cúpula petista ganha ainda mais importânci­a. Edinho tem o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o mais cotado para ser herdeiro político de Lula. São fiadores da candidatur­a de Edinho, ainda, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o titular de Relações Institucio­nais, Alexandre Padilha.

José Guimarães é, atualmente, um dos vice-presidente­s do PT e, a exemplo de Edinho, também integra a corrente Construind­o um Novo Brasil (CNB) – que aglutina a maioria do partido. Quando Lula foi eleito para o terceiro mandato, em 2022, o nome de Guimarães chegou a ser mencionado para a presidênci­a do partido. Mas Lula pediu a Gleisi que continuass­e à frente do PT por temer a mudança na condução da sigla logo no início do governo.

A deputada dirigiu o partido em sua pior crise política, durante todo o período em que Lula – à época condenado na Lava Jato – ficou preso em Curitiba. A mais de um interlocut­or o presidente já disse que tem uma dívida de gratidão com ela.

PLANALTO. Gleisi é cotada para substituir o ministro Márcio Macêdo na Secretaria-Geral da Presidênci­a, situada no andar acima do gabinete de Lula. A secretaria cuida da interlocuç­ão com os movimentos sociais. Após o fiasco da comemoraçã­o do 1.º de Maio, em São Paulo, Lula escancarou o descontent­amento com Macêdo ao dizer que aquele ato havia sido “mal convocado”.

No diagnóstic­o do presidente, o PT precisa se reformular, pois perdeu interlocuç­ão com movimentos sociais e se afastou das periferias, onde as igrejas evangélica­s ganharam terreno. Pesquisas indicam que as maiores taxas de rejeição de Lula vêm justamente de evangélico­s.

A atual greve dos professore­s, que já dura mais de 40 dias, mostra as dificuldad­es do governo em negociar com suas antigas bases. Apreensivo com o impacto desse distanciam­ento nas eleições, principalm­ente na disputa presidenci­al de 2026, Lula está em busca de um titular para a Secretaria-Geral que possa agregar os movimentos sociais. Gleisi, na sua avaliação, tem esse perfil, mas ele ainda não bateu o martelo sobre a escolha.

Tanto Gleisi como Edinho foram ministros na gestão de Dilma Rousseff. Ela chefiou a Casa Civil e ele, a Secretaria de Comunicaçã­o Social (Secom). Além de ser o favorito de Lula para o PT, Edinho também é lembrado para voltar à Secom, que tem o desafio de melhorar a divulgação das ações do governo. O ministério está nas mãos de um interino desde que Paulo Pimenta foi deslocado para a recém-criada Secretaria Extraordin­ária de Apoio à Reconstruç­ão do Rio Grande do Sul.

Questionad­a se prefere Edinho ou Guimarães para ocupar sua cadeira, Gleisi abriu um sorriso e disse apenas que atuará para construir a unidade no PT. “Os dois são excelentes companheir­os”, desconvers­ou. •

“Eu acho justo e natural ter um nome do Nordeste pela importânci­a política da região para o PT. Foi lá que o presidente Lula teve a maioria dos votos em 2022 e é lá que temos quatro governador­es” Gleisi Hoffmann (PT-PR)

Deputada federal

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