O Estado de S. Paulo

Mudança na Artesp deve reduzir poder de Milton Leite

Governador vai fazer troca na direção do órgão que controla o transporte no Estado, retirando homem de confiança de vereador

- GUSTAVO CÔRTES

O governador Tarcísio de Freitas (Republican­os) fará, no próximo mês, uma troca na direção da Agência de Transporte do Estado (Artesp), hoje comandada por Milton Roberto Persoli, homem de confiança do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil). O provável substituto é o atual secretário executivo de Parcerias e Investimen­tos, André Isper.

Com a chegada do novo nome, o órgão deverá passar por uma reformulaç­ão interna, com a criação de diretorias específica­s para cada uma das áreas de atuação. A Artesp é responsáve­l por regular e fiscalizar concessões de rodovias, cinco aeroportos regionais e o transporte interurban­o de trens e ônibus. Por isso, é considerad­a um postochave na política paulista.

A gestão de Tarcísio quer uma estrutura de comando específica para cada um destes setores, com exceção do transporte entre cidades, que pode ser dividido entre duas diretorias: uma dedicada aos ônibus e outra aos veículos sobre trilhos. A passagem de bastão segue o rito da entidade, cujos diretores têm mandatos de quatro anos e precisam ser aprovados pelo Conselho Diretor e pela Assembleia Legislativ­a de São Paulo. Porém, a mudança deve enfraquece­r o controle de Leite sobre o sistema de transporte.

Procurado, o governo afirmou que “o mandato do atual diretor-geral da Artesp, Milton Persoli, termina em junho de 2024” e que “a decisão sobre a eventual recondução ao cargo ou substituiç­ão será realizada e comunicada oportuname­nte, assim como a indicação à Diretoria de Controle Econômico”. Persoli não respondeu aos contatos da reportagem.

VICE. Postulante a vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) à reeleição, Milton Leite indicou Persoli em 2020, na gestão de João Doria. A troca marca mais uma redução de espaço do seu grupo no governo. Nos últimos quatro dos 28 anos em que o PSDB governou o Estado, Leite alocou aliados na antiga Secretaria de Logística e Transporte. Com a eleição de Tarcísio, as atribuiçõe­s da pasta foram divididas entre outras duas, e os comandos trocados. A perda de espaço de Leite não se restringiu à área dos transporte­s. A Companhia de Desenvolvi­mento Habitacion­al Urbano (CDHU) também é uma estrutura de governo em que ele mantinha ingerência durante as gestões tucanas.

Ao Estadão, Milton Leite nega que tenha sido avalista da indicação de Persoli, que, segundo ele, chegou ao cargo pelas qualificaç­ões técnicas e devido à escolha do ex-secretário municipal de Transporte e Logística João Octaviano Machado Neto.

Leite teve o sigilo bancário quebrado pela Justiça na investigaç­ão sobre o uso de empresas de ônibus para lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). A Promotoria suspeita de participaç­ão de Leite nos crimes. O vereador nega as suspeitas e diz que o pedido de quebra de sigilo teve origem em investigaç­ão antiga. Segundo ele, “nada de concreto foi apurado”.

Vereador perde espaço na gestão atual e é acossado por investigaç­ão do MPE sobre o PCC

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