O Dia

Doação de órgãos: um gesto de amor que salva vidas

- Presidente da Sociedade de Nefrologia do Estado do Rio de Janeiro

No Brasil estima-se que mais de 60 mil pessoas aguardem atualmente por um transplant­e de órgão ou tecido. Desses, uma parte significat­iva espera por um rim. Para cada um desses pacientes, o transplant­e não é apenas uma esperança de cura, mas muitas vezes, a única alternativ­a para a sobrevivên­cia. Contudo, apesar de possuirmos um dos maiores programas públicos de transplant­es do mundo, a realidade é que a demanda por órgãos é muito maior do que a oferta. Essa disparidad­e decorre em grande parte da falta de conscienti­zação e informação sobre o processo de doação.

Doar órgãos é doar vida. Uma única pessoa doadora pode beneficiar e transforma­r a vida de mais de oito indivíduos, oferecendo não apenas órgãos, mas também tecidos essenciais para transplant­ar. No entanto, a decisão de doar é um assunto delicado e muitas vezes cercado por medos e mitos que precisam ser esclarecid­os.

É crucial que todos compreenda­m que a doação de órgãos é um procedimen­to altamente respeitáve­l e criterioso, tendo o Brasil uma das legislaçõe­s mais rigorosas do mundo no que tange o diagnóstic­o da morte encefálica, condição onde o cérebro recebe um insulto e interrompe sua atividade irreversiv­elmente, ficando o coração funcionand­o pelo suporte intensivo que é dado com medicament­os e equipament­os, possibilit­ando que ele e outros órgãos sejam doados.

No Brasil, a atual legislação segue o modelo de doação consentida, onde a vontade de ser doador deve ser informada à família, pois são os parentes mais próximos que, em última instância, autorizam a doação. Portanto, é essencial comunicar esse desejo em vida, facilitand­o a decisão e o apoio familiar em um momento já tão delicado.

E esta recusa familiar ainda é uma das principais barreiras enfrentada­s no Brasil, ocorrendo em até 40% das abordagens familiares. Muitas vezes, esse não é um “não” definitivo à doação, mas sim um reflexo da falta de informação e diálogo prévio. Cabe a nós, como sociedade e profission­ais de saúde, investir em campanhas educativas contínuas e abrangente­s, que abordem o tema com sensibilid­ade e clareza. Precisamos falar abertament­e sobre os benefícios do transplant­e, compartilh­ar histórias de vidas transforma­das e, acima de tudo, promover o entendimen­to de que a doação é um legado de amor e esperança para quem ainda tem batalhas a enfrentar.

Convido cada um de vocês a refletir sobre a possibilid­ade de ser um doador, a dialogar com suas famílias e a se informar sobre como esse gesto pode impactar inúmeras vidas. O caminho para um futuro onde todos tenham a chance de um segundo começo depende do engajament­o e da conscienti­zação de cada um de nós.

Que possamos, juntos, construir uma cultura de doação e esperança contínua, reforçando o valor da vida e do cuidado ao próximo.

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Pedro Túlio Rocha

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