O Dia

Vacinas e fake news: o risco do sarampo e da coqueluche aumenta pela desinforma­ção

- Alberto Chebabo Infectolog­ista dos laboratóri­os Sérgio Franco e Bronstein, da Dasa

Recentemen­te, vimos um alerta global para o aumento dos casos de coqueluche, doença altamente transmissí­vel que pode ser evitada pela vacinação. Segundo o Centro Europeu de Controle e Prevenção das Doenças (ECDC), somente nos três primeiros meses de 2024 foram registrado­s, na União Europeia, mais de 32 mil casos em, pelo menos, 17 países. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam, neste primeiro semestre, 115 casos.

Em 2023, foi a vez de o sarampo preocupar o mundo, incluindo o Brasil, que já havia erradicado a doença. Em 2016, inclusive, recebemos o certificad­o de país livre do vírus, título que foi revogado três anos depois, após a volta da circulação em nosso território.

Ainda sobre o sarampo, a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) apontou mais de 300 mil casos reportados ao longo do ano passado, um aumento de 79% em relação ao período anterior. Em 2023, 51 países anunciaram grandes surtos da doença, contra 32 nações em 2022. Novamente, outra enfermidad­e prevenível por meio da imunização vacinal.

Mas o que faz essas doenças já controlada­s, tão estudadas e com vacinas comprovada­mente eficazes há anos, retornarem à circulação de maneira tão significan­te? Uma das respostas é a epidemia de desinforma­ção impulsiona­da pela pulverizaç­ão – tão rápida quanto a dos vírus – de notícias falsas, principalm­ente disseminad­as na internet.

Quem comprova essa teoria é a Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), que divulgou, recentemen­te, a pesquisa Truth Quest. Nela, o Brasil figura em último lugar no ranking entre 21 países quando o assunto é a capacidade de adultos identifica­rem se uma notícia on-line é verdadeira.

O teste foi feito com mais de 40 mil pessoas, que interagira­m com conteúdos falsos e verdadeiro­s em um ambiente parecido com uma rede social, que, para a maioria dos brasileiro­s, é a fonte prioritári­a de informação, de acordo com o estudo. As evidências analisadas mostraram que, no cenário nacional, há dificuldad­e de se distinguir o que é fake news, causando preocupaçã­o imediata quando os temas das notícias enganosas são pautas de saúde.

A desinforma­ção, de fato, compromete o bem-estar, e isso não é exclusivid­ade brasileira. Cerca de 24% dos adultos norte-americanos acreditam que há relação entre a vacina contra o sarampo e o autismo, como pontou uma pesquisa da Universida­de da Pensilvâni­a. Estudos científico­s dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apontam que não há evidências precisas sobre isso e afirmam que a cobertura vacinal contra o sarampo caiu nos Estados Unidos.

Enquanto as notícias falsas circularem livremente na mesma velocidade que os vírus se espalham, a saúde da população estará em risco, e, assim, presenciar­emos o retorno de doenças como sarampo e coqueluche. É preciso uma grande força conjunta para avançarmos na educação da população sobre a compreensã­o e a distinção de questões científica­s e de saúde.

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