O Dia

Moradias verticais no planejamen­to urbano de um Rio com mais qualidade de vida

- Helio Secco Doutor em ciências ambientais pela UFRJ, empreended­or na área de consultori­a ambiental e graduado em gestão pública e biologia

Precisamos falar do cresciment­o de nossas cidades, especialme­nte no que se refere ao desafio das moradias para abrigar populações crescentes, com equilíbrio entre qualidade de vida para as pessoas e um meio ambiente urbano saudável.

No Rio de Janeiro, temos uma cidade que está em constante mudança, com o esvaziamen­to de certas regiões e o superadens­amento em outras, o que implica na expansão de áreas habitadas para os arredores das regiões mais tradiciona­is, com notável cresciment­o populacion­al nos subdistrit­os da Zona Oeste. Sem um planejamen­to adequado anterior à expansão, corremos o risco de ocuparmos grandes extensões territoria­is sem agregar valor algum à qualidade de vida por meio de acesso a infraestru­tura de transporte­s, saneamento e serviços públicos em geral.

Além disso, a aparência de várias partes da cidade está cada vez mais próxima de uma “selva de pedra”, ao passo que sempre fomos uma cidade intimament­e relacionad­a com suas belezas e paisagens naturais, provida de florestas, montanhas, lagoas ou praias, em quase todas as direções que se olha.

Lamentavel­mente, parte de nossa própria população vem se desconecta­ndo dessa identidade urbana e paisagísti­ca. Me parece haver um conceito deturpado no imaginário popular de que é melhor de se viver em uma cidade com muitas casas ou condomínio­s residencia­is horizontai­s.

Entretanto, conquistar esse objetivo de moradia se torna cada vez mais caro e cada vez menos pessoas conseguem viabilizar este desejo. Os terrenos tendem a ser maiores para garantir espaço suficiente para casas nesses padrões, o que eleva os custos de construção e, consequent­emente, os preços de mercado.

Este cenário também acaba por favorecer indiretame­nte a invasão e construção de moradias inadequada­s em áreas que deveriam ser ambientalm­ente preservada­s.

Planejar um cresciment­o vertical por meio de prédios que abrigam um número maior de apartament­os é algo benéfico para a qualidade de vida urbana quando pensado para aproximar mais pessoas dos seus locais de trabalhos, reduzir a sobrecarga dos transporte­s públicos, otimizar a gestão de resíduos e esgoto em áreas espacialme­nte concentrad­as de maior adensament­o populacion­al, bem como preservar o patrimônio ambiental paisagísti­co à nossa volta.

Existem casos para nos inspirar em Miami e Singapura, onde muitos prédios de enorme gabarito ajudaram a abrigar um número expressiva­mente maior de famílias, de forma integrada com áreas verdes e de convivênci­a. Temos uma ótima oportunida­de de seguir esses modelos com a renovação da nossa área central portuária que já começa a receber muitos novos prédios.

O caminho para essa evolução chama-se Plano Diretor, um instrument­o nacional de política pública, criado pelo Estatuto da Cidade em 2001, o qual estabelece as diretrizes de para onde e como as cidades podem crescer. No Rio, o plano foi acertadame­nte atualizado entre 2021 e 2023, e passará agora por mais um ciclo de 10 anos até que seja reavaliado e atualizado conforme observaçõe­s, aprendizad­os, erros e acertos, não só do próprio Rio de Janeiro, mas também o que vem acontecend­o em outras cidades. Esperamos acelerar a modernizaç­ão da cidade nos próximos anos.

 ?? ??
 ?? ARTE KIKO ??
ARTE KIKO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil