Caso João Pedro: pais protestam contra sentença
Familiares de vítimas da violência do estado e movimentos sociais realizaram um protesto, na manhã de ontem, em frente ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), contra a decisão da Justiça que absolveu os policiais pela morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto, morto dentro de casa no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, no dia 18 de maio de 2020.
Os pais do adolescente afirmaram que vão recorrer até a última instância em busca de justiça e discordaram do entendimento da juíza de que os executores agiram em legítima defesa.
“Essa sentença não tem responsabilidade nenhuma com a família ou com a sociedade. A verdade é que os policiais entraram em uma casa efetuando disparos de arma de fogo, onde só havia jovens brincando. Como um agente público entra em uma casa efetuando mais de 70 disparos sem intenção de matar? Tentam nos fazer de burros, mas não somos”, criticou o pai do jovem, Neilton da Costa. “João Pedro foi levado do local em um helicóptero e só fui saber onde ele estava 17 horas depois”, lembrou.
‘RACISMO ESTRUTURAL’
A presidente da Comissão de Combate ao Racismo da Câmara de Vereadores do Rio, vereadora Monica Cunha (Psol), destacou que o Ministério Público (MP) representou pela condenação dos policiais envolvidos e avaliou que a Justiça os absolveu por conta do racismo estrutural nas instituições brasileiras.
“Dessa vez, até o MP se colocou na Justiça para ver o absurdo que foi feito e mesmo assim não foi ouvido. O Judiciário mais uma vez age com racismo em cima dos nossos corpos”, afirmou a vereadora. “A juíza acatou o que os advogados dos policiais disseram e ignorou as provas do Ministério Público, da Defensoria Pública e os depoimentos dos adolescentes que lá estavam”, acrescentou o pai da vítima.
APOIO À FAMÍLIA
A diretora da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, afirmou que a instituição seguirá em apoio à família até reconhecer que obteve a resposta correta para o crime.
“É preciso que superem o racismo, essa onda de impunidade. É preciso que a morte de João Pedro não seja em vão. O próprio STF disse que operações no tempo da pandemia estavam erradas. A gente não pode perder as nossas crianças e adolescentes negros que moram em favelas. Isso é racismo e a impunidade precisa acabar”, declarou Jurema.
O Tribunal de Justiça afirmou ontem, em nota, que não se manifesta sobre decisões dos seus magistrados.