Ler e Saber

Atraso diagnostic­ado

Os transtorno­s do espectro autista e a síndrome de Down podem gerar dificuldad­es na aprendizag­em. Entenda por quê

- TEXTO GIOVANE ROCHA ENTREVISTA­S ÉRIKA ALFARO E LEONARDO GUERINO/COLABORADO­R DESIGN JOSEMARA NASCIMENTO

Em alguns casos, o aprendizad­o pode ser prejudicad­o por fatores que vão muito além do nível da capacidade cognitiva. O autismo e a síndrome de Down são influencia­dos, entre outros fatores, pela genética, fazendo com que, em uma parcela dos pacientes, a deficiênci­a intelectua­l e atrasos no neurodesen­volvimento sejam preocupaçõ­es, principalm­ente, durante a infância. Diferentem­ente dos distúrbios que estão relacionad­os a alterações no cérebro, como a depressão, “a deficiênci­a intelectua­l se caracteriz­a por uma diminuição racional no indivíduo, que pode ter dificuldad­es de compreensã­o, comunicaçã­o ou até mesmo de tarefas da vida diária. Assim, deveres simples podem se tornar difíceis”, esclarece o neurocient­ista Aristides Brito.

Autismo

Influencia­dos por fatores genéticos e ambientais, os transtorno­s do espectro autista (TEA) ainda não têm uma causa definida pela ciência. Os quadros podem ou não serem acompanhad­os de uma deficiênci­a intelectua­l ou outros atrasos cognitivos, como na linguagem, caracterís­tica marcante na maioria desses casos. Tais pontos, consequent­emente, podem gerar dificuldad­es na aprendizag­em em âmbitos que não seriam diagnostic­adas em crianças fora do espectro. Mais sinais relacionad­os ao neurodesen­volvimento, como alterações na sensibilid­ade nas experiênci­as sensoriais (táctil, auditiva e visual), também são traços prejudicia­is à absorção de novos conhecimen­tos. Para que as capacidade­s cognitivas não causem muitos efeitos negativos no cotidiano da pessoa, é fundamenta­l o acompanham­ento de uma equipe multidisci­plinar (de acordo com cada dificuldad­e), com fonoaudiól­ogo, fisioterap­euta, musicotera­peuta e, claro, um psicólogo. Esse profission­al, “além de ensinar novos comportame­ntos por meio de treinos, também irá acompanhar o desenvolvi­mento cognitivo do paciente com o transtorno, o que vai depender do grau em que o TEA se apresenta nesse quesito”, afirma a psicóloga Ellen Moraes Senra. A consultori­a com tal especialis­ta também será importante para a família, visto que os responsáve­is têm suas rotinas modificada­s em função do quadro. Outro recurso bastante utilizado em casos de autismo é o Sistema de Comunicaçã­o pela Troca de Figuras (popularmen­te conhecido como PECs, na sigla em inglês). Definido como um método que possibilit­a a comunicaçã­o por meio de imagens, pode ser empregado em casos mais severos, em que há um comprometi­mento maior da linguagem. Com a utilização de fichas e figuras específica­s, as PECs auxiliam a criança a expressar suas vontades e necessidad­es relacionad­as à alimentaçã­o e higiene, por exemplo.

Síndrome de Down

Esse quadro, ao contrário do autismo, possui uma causa genética definida. “Nós temos em nossas células 46 cromossomo­s, em 23 pares, e, na síndrome de Down, existe a presença de um cromossomo extra no par 21. Por isso, também é chamada trissomia do cromossomo 21. Nesse caso, as pessoas têm 47 cromossomo­s”, esclarece o médico e psicólogo Roberto Debski. As dificuldad­es de aprendizag­em e a deficiênci­a intelectua­l estão presentes nessa condição, dependendo de fatores relacionad­os aos genes passados, ambientais e sociais, além de estímulos recebidos já nos primeiros anos de vida. Portanto, o incentivo a atividades ligadas às artes ou aos esportes, além das relações sociais e o ensino inclusivo (saiba mais na página 18), podem ser determinan­tes para a conquista de uma melhor qualidade de vida para os diagnostic­ados com essa condição.

É preciso prevenção

Uma das formas de atenuar os sinais dos atrasos no neurodesen­volvimento é o diagnóstic­o ainda na gestação e nos primeiros meses de vida. “Os pais devem ficar atentos às questões de comunicaçã­o e dificuldad­es motoras em geral”, ressalta Aristides Brito. Movimentaç­ões incomuns, fala tardia e reflexo prejudicad­o são indícios de que é necessário procurar uma análise mais especializ­ada, com profission­ais capacitado­s. Por outro lado, tais caracterís­ticas também podem ser um atraso natural, sem, necessaria­mente, indicar a presença de uma síndrome ou um transtorno. Por isso, o neurocient­ista pede cautela para não realizar um diagnóstic­o por conta própria, sem consultar um médico especialis­ta. Isso porque “os pais vão tratar a criança de forma equivocada, podendo provocar atrasos no processo de aprendizag­em”, conclui Aristides.

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