Atraso diagnosticado
Os transtornos do espectro autista e a síndrome de Down podem gerar dificuldades na aprendizagem. Entenda por quê
Em alguns casos, o aprendizado pode ser prejudicado por fatores que vão muito além do nível da capacidade cognitiva. O autismo e a síndrome de Down são influenciados, entre outros fatores, pela genética, fazendo com que, em uma parcela dos pacientes, a deficiência intelectual e atrasos no neurodesenvolvimento sejam preocupações, principalmente, durante a infância. Diferentemente dos distúrbios que estão relacionados a alterações no cérebro, como a depressão, “a deficiência intelectual se caracteriza por uma diminuição racional no indivíduo, que pode ter dificuldades de compreensão, comunicação ou até mesmo de tarefas da vida diária. Assim, deveres simples podem se tornar difíceis”, esclarece o neurocientista Aristides Brito.
Autismo
Influenciados por fatores genéticos e ambientais, os transtornos do espectro autista (TEA) ainda não têm uma causa definida pela ciência. Os quadros podem ou não serem acompanhados de uma deficiência intelectual ou outros atrasos cognitivos, como na linguagem, característica marcante na maioria desses casos. Tais pontos, consequentemente, podem gerar dificuldades na aprendizagem em âmbitos que não seriam diagnosticadas em crianças fora do espectro. Mais sinais relacionados ao neurodesenvolvimento, como alterações na sensibilidade nas experiências sensoriais (táctil, auditiva e visual), também são traços prejudiciais à absorção de novos conhecimentos. Para que as capacidades cognitivas não causem muitos efeitos negativos no cotidiano da pessoa, é fundamental o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar (de acordo com cada dificuldade), com fonoaudiólogo, fisioterapeuta, musicoterapeuta e, claro, um psicólogo. Esse profissional, “além de ensinar novos comportamentos por meio de treinos, também irá acompanhar o desenvolvimento cognitivo do paciente com o transtorno, o que vai depender do grau em que o TEA se apresenta nesse quesito”, afirma a psicóloga Ellen Moraes Senra. A consultoria com tal especialista também será importante para a família, visto que os responsáveis têm suas rotinas modificadas em função do quadro. Outro recurso bastante utilizado em casos de autismo é o Sistema de Comunicação pela Troca de Figuras (popularmente conhecido como PECs, na sigla em inglês). Definido como um método que possibilita a comunicação por meio de imagens, pode ser empregado em casos mais severos, em que há um comprometimento maior da linguagem. Com a utilização de fichas e figuras específicas, as PECs auxiliam a criança a expressar suas vontades e necessidades relacionadas à alimentação e higiene, por exemplo.
Síndrome de Down
Esse quadro, ao contrário do autismo, possui uma causa genética definida. “Nós temos em nossas células 46 cromossomos, em 23 pares, e, na síndrome de Down, existe a presença de um cromossomo extra no par 21. Por isso, também é chamada trissomia do cromossomo 21. Nesse caso, as pessoas têm 47 cromossomos”, esclarece o médico e psicólogo Roberto Debski. As dificuldades de aprendizagem e a deficiência intelectual estão presentes nessa condição, dependendo de fatores relacionados aos genes passados, ambientais e sociais, além de estímulos recebidos já nos primeiros anos de vida. Portanto, o incentivo a atividades ligadas às artes ou aos esportes, além das relações sociais e o ensino inclusivo (saiba mais na página 18), podem ser determinantes para a conquista de uma melhor qualidade de vida para os diagnosticados com essa condição.
É preciso prevenção
Uma das formas de atenuar os sinais dos atrasos no neurodesenvolvimento é o diagnóstico ainda na gestação e nos primeiros meses de vida. “Os pais devem ficar atentos às questões de comunicação e dificuldades motoras em geral”, ressalta Aristides Brito. Movimentações incomuns, fala tardia e reflexo prejudicado são indícios de que é necessário procurar uma análise mais especializada, com profissionais capacitados. Por outro lado, tais características também podem ser um atraso natural, sem, necessariamente, indicar a presença de uma síndrome ou um transtorno. Por isso, o neurocientista pede cautela para não realizar um diagnóstico por conta própria, sem consultar um médico especialista. Isso porque “os pais vão tratar a criança de forma equivocada, podendo provocar atrasos no processo de aprendizagem”, conclui Aristides.