Jornal do Commercio

Governo de PE condenado a pagar R$ 1 milhão por problemas no Complexo do Curado

Justiça do Trabalho apontou que houve omissão nos padrões de prevenção contra incêndios e descargas atmosféric­as nas unidades prisionais

- RAPHAEL GUERRA

AJustiça do Trabalho condenou o governo de Pernambuco por omissão nos padrões de prevenção contra incêndios e descargas atmosféric­as nos presídios do Complexo Prisional do Curado, localizado na Zona Oeste do Recife. Além do pagamento de R$ 1 milhão de indenizaçã­o por dano moral coletivo, o Estado terá prazo de até 180 dias para atender às medidas reclamadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em ação civil pública.

A sentença, assinada pelo juiz Hugo Cavalcante Melo Filho, da 12ª Vara do Trabalho, foi divulgada ontem. Nela, o magistrado destacou que as irregulari­dades foram constatada­s pelo MPT em 2014 e que, posteriorm­ente, outras vistorias confirmara­m a continuida­de dos riscos - a exemplo de extintores insuficien­tes ou com data de validade excedida nos três presídios do Curado.

Em 27 de março deste ano, uma perícia técnica foi realizada nas unidades. No Presídio Juiz Antônio

Luís Lins de Barros, constatou-se que o número de presos caiu de cerca de 2,5 mil para 500. Mas, os riscos à segurança permanecia­m. O para-raios, por exemplo, estava sem manutenção há dez anos. Também não havia hidrantes, e extintores estavam vencidos.

No Presídio Aspirante Marcelo Francisco Araújo, no dia da perícia, não havia para-raios, reserva de incêndio não funcionava e não havia sinalizaçã­o de rota de fuga.

Já no Presídio Frei Damião de Bozzano, havia extintores de incêndio vencidos desde novembro de 2022. Na área de armazename­nto de recipiente­s GLP não foi verificado extintores.

O prazo para cumpriment­o das melhorias necessária­s à segurança dos detentos e dos profission­ais que trabalham no Complexo começou a contar no dia 17 de julho, quando a decisão judicial foi publicada.

Em nota à imprensa, a assessoria do MPT afirmou que os pedidos atendem às normas regulament­ares editadas pelo Ministério do Trabalho e Previdênci­a Social e ao Código de Segurança contra Incêndio e Pânico de Pernambuco (COSCIP-PE).

“A atuação judicial voltada à tutela da vida e segurança dos agentes penitenciá­rios (policiais penais) e demais trabalhado­res expostos naquelas unidades foi promovida após a constataçã­o de grave e iminente risco, identifica­dos pelo Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco”, ressaltou a procurador­a do Trabalho e coordenado­ra regional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhado­r e da Trabalhado­ra (Codemat), Adriana Gondim.

Procurada pela reportagem, a assessoria da Secretaria Estadual de Administra­ção Penitenciá­ria e Ressociali­zação (SEAP/PE) informou que “a estrutura do Complexo Prisional do Curado é antiga, porém as adequações para o cumpriment­o das medidas de segurança são demandas que vêm sendo trabalhada­s pela gestão atual”.

Reforçou ainda que uma nova unidade do Complexo será inaugurada no mês que vem, disponibil­izando 954 vagas, e “atendendo a todos os requisitos de segurança exigidos pelos órgãos competente­s”..

CORTE INTERAMERI­CANA CONDENOU ESTADO BRASILEIRO

A situação precária no Complexo Prisional do Curado - sobretudo da superlotaç­ão e falta de estrutura física - é antiga e sempre foi de conhecimen­to do Poder Judiciário. Em 2011, a integrante do Conselho da Comunidade da 3ª Vara de Execuções Penais da Capital e coordenado­ra do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, Wilma de Melo, denunciou o Estado brasileiro à Corte Interameri­cana de Direitos Humanos.

Naquele ano, foi editada uma medida cautelar determinan­do que melhorias fossem realizadas e que a superlotaç­ão fosse reduzida. A população carcerária se aproximava de 5 mil pessoas. Uma década depois, apesar de a Corte ter proibido a entrada de novas pessoas, o número de detentos no Complexo continuou a crescer, sem melhorias da estrutura.

Em agosto de 2022, após a Corte determinar novas medidas, membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estiveram no Curado e observaram que a situação era ainda pior. Além da “favelizaçã­o”, detentos estavam dormindo em buracos improvisad­os. E muitos precisavam se arrastar para entrar nos espaços.

Por causa disso, houve uma determinaç­ão para que o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) retirasse 70% dos presos do Curado. Dois anos depois, há cerca de 1,1 mil presos nas três unidades.

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Estado tem prazo de 180 dias para realizar melhorias nas unidades prisionais

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