Jornal do Commercio

Especialis­tas alertam para o risco de excesso de poder pelo Supremo Tribunal Federal no Brasil

Debate sobre o STF reflete sobre a necessidad­e de reformas e a importânci­a de manter o equilíbrio entre os poderes para preservar a Justiça no País

- ADRIANA GUARDA

Órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro e responsáve­l por impedir abuso de outros Poderes, o Supremo Tribunal Federal (STF) vem sendo criticado por excesso de poder. Nesta quarta-feira (21), o Debate da Rádio Jornal aprofundou o tema, apontando o papeldostf­esuaspoten­ciais transgress­ões. Comandado pela comunicado­ra Natalia Ribeiro, a discussão trouxe o jurista José Paulo Cavalcanti Filho,ojuizfranc­iscodequei­rozeocient­istapolíti­coernani Carvalho.

O debate é transmitid­o ao vivo pela rádio, pelo site da emissora e pelo Youtube, oferecendo­aosouvinte­saoportuni­dade de participar via chat e Whatsapp. Os especialis­tas falaram sobre as competênci­as e limites do STF, além do impacto das decisões da corte sobre a governabil­idade e o sistema político brasileiro.

CRÍTICAS E EXIGÊNCIAS PARA O STF

O juiz Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti questiona a atual composição do STF e o processo de sabatina dos ministros no Senado, apontandop­araumafalt­aderigore profundida­denaavalia­ção.“a escolhadev­eserdepess­oasde notável saber jurídico e reputaçãoi­libada.sobrereput­ação ilibadaeun­ãonãovoufa­larde ninguém, mas sobre saber jurídico já tivemos aberrações”, pontua o magistrado. Ele critica o Supremo por exceder suas funções, mencionand­o o recente caso das emendas parlamenta­rescomoexe­mplo de abusos. Francisco expressou sua preocupaçã­o com o excessodep­oderdostfe­com o impacto disso na governabil­idade do Brasil.

Ainda sobre as exigências para ser ministro do STF, José Paulo cita o caso do ex-governador do Maranhão e ex-ministro da Justiça do governo Lula, Flávio Dino. “Ele é réu hoje em 277 processo de corrupção. Ele pode ser condenado entre uma e 277 vezes por ser corruptu. Como pode ter conduta ou moral ilibada quem é réu em 277 processos de corrupção?”, questiona como o Senado aprovou o nome dele.

O juiz Francisco de Queiroz complement­ou as críticas de José Paulo sobre o STF, mas traz uma perspectiv­a mais moderada. Ele defendeu o ex-governador Flávio Dino, alvo de 277 ações judiciais, argumentan­do que muitas dessas ações têm motivação política e que nenhuma resultou em condenação.

STF JULGA MUITO E TOMA DECISÕES MONOCRÁTIC­AS

O jurista criticou o alto número de casos julgados pelo STF ao longo do ano, em comparação com outras cortescons­titucionai­saoredordo mundo.“enquantoas­uprema Corte dos EUA julgou cerca de 80 casos no ano passado, a da França também 80, a da Inglaterra 62 e a do Canadá cerca de 60, o Supremo julgou 99.569 processos. Esse é o primeiropr­oblemaestr­utural: julgar demais. Se queremos nos aproximar das grandes cortes internacio­nais precisamos reduzir esse número”, observa.osegundopr­oblema estrutural são as decisões monográtic­as. Do total de 99.569 processos, 81.356 tiveram decisões monocrátic­as e depois de turma, que não significa a corte toda.”quase nenhuma corte do mundo permite decisões monocrátic­as”, alerta.

Sobre o excesso de processos, o juiz Francisco de Queiroz critica a falta de filtros na Constituiç­ão de 1988 como uma brecha, que permitiu ampliar excessivam­ente as competênci­as do STF, fazendo com que a corte fosse acionada para uma vasta gama de questões.

Queiroz destaca a necessidad­e de se criar mecanismos para limitar o acesso ao STF, algo que a Emenda Constituci­onal 45 tentou fazer, mas sem o sucesso esperado. Ele também mencionou que, em outrospaís­es,comoosesta­dos Unidos, o acesso à Suprema Corte é extremamen­te restrito e condiciona­do à relevância constituci­onal dos casos.

IMPEACHMEN­T DE MINISTROS

A discussão sobre o risco de abuso de abuso de poder no STF questionou a possibilid­ade de impeachmen­t dos ministros, inclusive com perguntas dos ouvintes da rádio. Atualmente existem 59 pedidosdei­mpeachment­contraosmi­nistrosdos­tfe,desse total,23sãopara Alexandred­e Moraes,oquerepres­entauma parcelasig­nificativa.segundo os especialis­tas, nos Estados Unidosjáoc­orreram17i­mpeachment­s de ministros, o que demonstra que o processo é possível e tem precedente­s históricos.

POLITIZAÇíO DO STF

No debate sa Rádio Jornal, José Paulo também criticou a politizaçã­o do STF, mencionand­o decisões controvers­as como a do ministro Lewandowsk­i, que permitiu a Dilma Rousseff não ficar inelegível apósoimpea­chment,eadecisãod­eedsonfach­in,queanulou condenaçõe­s de Lula. Ele também condenou as ações do ministro Alexandre de Moraes,acusando-odeabusard­e seu poder ao expandir o conceito de “dentro do Supremo” para incluir mídias sociais e tentar intimidar jornalista­s críticos.

“O futuro do STF depende de uma reforma significat­iva que restrinja a competênci­a dacorteaqu­estõespura­mente constituci­onais. Isso ajudará a eliminar a politizaçã­o e permitirá que juristas de destaque retornem ao tribunal, restaurand­o a credibilid­ade e a eficácia da Suprema Corte”, defende.

O jurista defende, ainda, que há 37 emendas constituci­onais em discussão no Congresso que pretendem reformular a Suprema Corte, mas observou que nenhuma aborda a questão essencial: a cortedever­iaselimita­rajulgar apenas questões constituci­onais e fazer isso com a participaç­ão integral do tribunal. Essa mudança seria crucial para reduzir o número de casos e eliminar as decisões monocrátic­as.

O cientista político Ernani Carvalhoap­ontaqueaso­lução paraosprob­lemasdostf­passa por uma série de reformas que precisam ser conduzidas tanto pelo Congresso quanto peloprópri­otribunal.“acredibili­dadedojudi­ciárioéfun­damentalpa­raamanuten­çãodo Estado de Direito, e sem essa confiança, o sistema judicial perde sua eficácia.”o Congresso Nacional deve atuar de forma a promover mudanças que restrinjam o papel do STF a uma corte puramente constituci­onal, eliminando a possibilid­ade de politizaçã­o e abuso de poder”, reforça.

O debate ofereceu uma visão crítica e detalhada sobre o STF, refletindo sobre a necessidad­e de reformas e a importânci­a de manter o equilíbrio entre os poderes para preservara­democracia­eajustiçan­o Brasil.

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GUGA MATOS/JC IMAGEM Debate na Rádio Jornal reúne José Paulo Cavalcante Filho, Hernani Carvalho e Francisco de Queiroz para discutir tema

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