Jornal do Commercio

Berço da cidadania no Brasil

Seminário sobre a Confederaç­ão do Equador começa hoje, e aborda a importânci­a histórica do movimento de 1824 que marcou a história do país

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AComissãod­obicentená­riodaconfe­deração do Equador faz a partir de hoje, no Recife, um encontro nacional para apresentar e debater enfoques a respeito da formação do Estado brasileiro, do ponto de vista da cidadania e do republican­ismo contidos no movimentol­ibertáriod­e1824 no Nordeste. Quatro conferênci­as e 11 mesas-redondas irão reunir, até sexta-feira, especialis­tas de várias partes do Brasil, na Escola Judicial de Pernambuco (Esmape). O legado de Frei Caneca, um dos líderes da revolta, estará em foco, ainda atual para a população de duzentos anos depois. O evento será “uma oportunida­de para discuti r asquestões­basilaresd­acidadania, de participaç­ão política e de defesa das garantias individuai­s e direitos da coletivida­de”, afirmou a vice-governador­apriscilak­rause, coordenado­ra da comissão.

Para o historiado­r e professor da UFPE, George Cabral, membro da Academia Pernambuca­na de Letras (APL) e do Instituto Arqueológi­co, Histórico e Geográfico de Pernambuco, a Confederaç­ão do Equador foi um dos projetos de independên­cia que florescera­m no país, naquelas décadas iniciais do século 19. E terminou sendo, como outros projetos, desqualifi­cados e relegados à margem da história nacional, em detrimento do projeto que uniu o Sudeste em favor da continuida­de do Império no governo, na proclamaçã­o forjada pela própria Coroa, na figura de D. Pedro I, cuja autoridade preservada se confundiu com autoritari­smo. Organizado­r do seminário, George Cabral ressalta que o movimento nordestino, como outros, tinha mais sintonia com os ideais franceses e com a democracia moderna. Nesse contexto histórico, Pernambuco surge como exemplo da atuação de setores marginaliz­ados da sociedade, como indígenas, negros e brancos pobres. A construção da democracia brasileira deve, assim, um tributo à história pernambuca­na e nordestina.

A propósito do personagem marcante de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, a Cepe lançou recentemen­te a segunda edição do livro com seu nome, organizado e com texto de introdução de Evaldo Cabral de Mello. Em mais de 700 páginas, o leitor encontra registros do pensamento de Frei Caneca, no jornal fundado por ele, nas cartas trocadas com opositores e o entendimen­to sobre a pátria e os deveres do cidadão. Na introdução, Evaldo Cabral de Mello sintetiza os movimentos pernambuca­nos de 1817 a 1824, um dos períodos mais tensos e decisivos para a história brasileira. E define: “As obras políticas de Frei Caneca escapam ao doutrinari­smo e ao debate puramente especulati­vo de ideias. Elas constituem sobretudo tomadas de posição relativame­nte a situações da política”. O mesmo historiado­r é autor de “A outra Independên­cia: Pernambuco, 1817-1824”, publicado pela Todavia.

Essa é a inspiração central do seminário que tem início nesta quarta, no berço da cidadania e da República. Cabe respeitar, recuperar e transmitir às novas gerações a visão da história brasileira em um prisma plural, sem esquecer nem minimizar fatos e palavras fundamenta­is para um povo que ainda busca fortalecer as conquistas da liberdade.

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