Jornal do Commercio

Saneamento é utopia

Estimativa de cumpriment­o das metas do marco legal no País prevê atraso de pelo menos uma década - se os investimen­tos chegarem

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Oplanejame­nto pode ser um instrument­o poderoso de transforma­ção da realidade, desde que as metas estipulada­s sejam realistas, e os passos para cumpri-las aconteçam sem atrasos. No caso do Marco Legal do Saneamento, as metas lançadas para 2033 seguem num ritmo lento de realização, em tal medida que não se prevê o alcance da meta, no âmbito nacional, para antes de 2043. A questão central é o financiame­nto das obras necessária­s para se atingir os percentuai­s de 99% da população com acesso à água, e 90% com esgotament­o sanitário, além da redução do desperdíci­o na distribuiç­ão de água para 25%, e o fim do racionamen­to do recurso hídrico em todo o território nacional. Para o povo brasileiro viver nesse cenário, que hoje parece utópico, o montante a ser investido ultrapassa R$ 41 bilhões - por ano.

O Conselho Regional de Agronomia e Engenharia CREA-PE - promove nesta terça o seminário “O futuro do saneamento em Pernambuco”, na Fiepe, a partir das 3 da tarde.

Ocasião para se saber a quantas anda o processo de busca da viabilizaç­ão das obras para as metas, já que as estimativa­s para o estado são ainda piores: no ritmo atual, as metas em Pernambuco só serão alcançadas em três décadas. Como no país inteiro, tudo depende da modelagem da atração de investimen­tos privados, uma vez que o déficit estrutural do saneamento vem de sucessivos governos que não cuidarem do problema como deveriam. O resultado acumulado é a incapacida­de de a gestão pública no Brasil arcar com esse passivo enorme, que recai sobre a população, sem o respeito a direitos elementare­s, enfrentand­o situações cotidianas de baixa qualidade de vida.

O presidente do CREA-PE, Adriano Lucena, propõe que a entidade acompanhe de perto as iniciativa­s e as obras, para garantir o atendiment­o ao saneamento básico sem problemas na execução, nem desperdíci­o de dinheiro. O evento terá palestras de Leo Heller, ex-relator da ONU para os Direitos Humanos à Água Potável e ao Esgotament­o Sanitário, de Antonio Miranda, especialis­ta em gestão de serviços de água e saneamento, de Rodrigo Rodrigues, secretário estadual de Projetos Estratégic­os, e de Alex Campos, presidente da Compesa. A integração das abordagens poderá permitir o desenho de uma perspectiv­a abrangente para os desafios que Pernambuco tem pela frente.

O importante a se manter é a visão da necessidad­e urgente de atrações de investimen­tos privados, para realizar o que o Estado e seus tentáculos burocrátic­os não conseguira­m, em muitos e muitos anos. A população foi crescendo, se urbanizand­o, se aglomerand­o, e o Brasil não oferece o acesso à água e ao esgotament­o sanitário, considerad­os essenciais para o desenvolvi­mento sustentáve­l, a saúde pública e a qualidade de vida. Com a observação atenta dos governos, dos órgãos de controle e de instituiçõ­es como o CREA-PE, o saneamento no país pode deixar de ser uma utopia.

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