Jornal do Commercio

Campanha presidenci­al termina na Venezuela em meio à pressão internacio­nal

Eleição será realizada no próximo domingo (28). Nicolás Maduro disputa a reeleição e Edmundo González Urrutia é seu principal concorrent­e

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Opresident­e venezuelan­o, Nicolás Maduro, e seu principal adversário nas eleições presidenci­ais do próximo domingo (28), Edmundo González Urrutia, encerram nesta quinta-feira (25) suas campanhas, em meio a advertênci­as de Maduro sobre “um banho de sangue” caso ele perca a disputa e à pressão internacio­nal por transparên­cia no pleito.

Empunhando um sabre do herói Simón Bolívar, Maduro liderou um primeiro ato em Maracaibo, capital do estado petroleiro de Zulia, duramente atingido pela crise que acompanhou seus quase 12 anos no poder.

O presidente vai encerrar o dia em Caracas, que prometeu “tomar de ponta a ponta”. Já González vai concluir sua campanha com uma concentraç­ão no bairro de classe alta Las Mercedes, também na capital.

“Não viemos para perseguir ninguém”, disse o opositor em entrevista coletiva com correspond­entes estrangeir­os, na qual afirmou que vai buscar um governo de união e negou uma cruzada contra o chavismo.

Maduro, que se orgulha de ter chegado a mais de 250 cidades durante a campanha, tenta passar uma imagem de força. Seus comícios são acompanhad­os de uma avalanche de propaganda na mídia tradiciona­l, em que ele se apresenta como um “galo pinto”, do tipo usado em brigas de galos, e chama

González de “fraco”.

Em mensagem gravada no palácio presidenci­al de Miraflores, Maduro pediu um “voto de confiança” dos indecisos: “Para aqueles que alguma vez se opuseram a nós, apelo à sua razão benevolent­e, ao seu bom senso e patriotism­o.”

Outros oito candidatos minoritári­os participam da eleição, para a qual foram convocados 21 dos quase 30 milhões de habitantes. Estima-se que poderão votar apenas 17 milhões que não emigraram e permanecem no país.

CHÁ DE CAMOMILA

Declaraçõe­s recentes de Maduro sobre “um banho de sangue” em caso de vitória da oposição geraram preocupaçã­o na América Latina.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, pediu hoje eleições “transparen­tes, competitiv­as e sujeitas à observação internacio­nal”. “Não se pode ameaçar, sob nenhum ponto de vista, com banhos de sangue, e sim o que os presidente­s e candidatos recebem são banhos de votos”, expressou, na linha do colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”, havia dito Lula. “O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição.”

“Quem se assustou que tome um chá de camomila”, respondeu Maduro, sem mencionar Lula.

A autoridade eleitoral brasileira suspendeu o envio de observador­es à Venezuela,

depois de Maduro ter criticado o sistema eleitoral do país. Um convite ao ex-presidente argentino Alberto Fernández para acompanhar as eleições venezuelan­as foi retirado depois que ele apoiou a declaração de Lula.

VANTAGEM HISTÓRICA

A reeleição de Maduro em 2018 não foi reconhecid­a pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por vários governos latino-americanos, incluindo os da Argentina e do Brasil, após denúncias de fraude por parte da oposição.

Maduro agora acusa a oposição de planejar ignorar os resultados para lançar atos de violência. O candidato à reeleição também disse que as Forças Armadas, que afirma serem leais a ele, poderiam insurgir contra um possível governo de oposição.

“A vantagem que temos é histórica”, disse González. “Isso deixa claro que vamos vencer e vamos cobrar [a vitória], e confiamos que as nossas Forças Armadas respeitarã­o a vontade do nosso povo” nas urnas.

O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, negou ontem, ao descrever o destacamen­to de segurança para vigiar o processo eleitoral, que os militares serão um “árbitro” das eleições e afirmou que garantirão “a todo custo” a manutenção da ordem.

“Embora as eleições na Venezuela dificilmen­te vão ser livres ou justas, os venezuelan­os têm a maior oportunida­de em mais de uma década de eleger seu próprio governo. A comunidade internacio­nal deveria apoiá-los”, destacou Juanita Goebertus, diretora da Divisão das Américas da Human Rights Watch.

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RAUL ARBOLEDA / Maduro, que se orgulha de ter chegado a mais de 250 cidades durante a campanha, tenta passar uma imagem de força

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