Jornal do Commercio

Alunos da rede estadual de Pernambuco usam a matemática para combater o racismo

Com o tema “A matemática e o continente africano: um passeio pela África”, a feira Matáfrica 2024, será realizada a partir desta terçafeira (7)

- MIRELLA ARAÚJO

Alunos e professore­s da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Professor Fernando Mota, localizada no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, vão unir a disciplina de matemática à luta contra o racismo. Com o tema “A matemática e o continente africano: um passeio pela África”, a feira Matáfrica 2024, que será realizada entre os dias 7 e 9 de maio, tem como objetivo mostrar que os números e operações não estão distantes dos temas abordados no dia a dia dos estudantes.

“O que nós percebemos em sala de aula é que as pessoas esquecem que a matemática nasceu no Antigo Egito e, consequent­emente ela surgiu no continente Africano. Com isso, nós queremos trazer à tona essa temática de que não existem só matemático­s importante­s gregos, europeus”, afirmou o professor Valfrido Costa.

Nesta primeira edição, a feira vai homenagear a professora e pesquisado­ra Sônia Guimarães, primeira mulher negra brasileira doutora em Física e a primeira a lecionar no Instituto Tecnológic­o de Aeronáutic­a (ITA), em um período em que a instituiçã­o ainda não aceitava mulheres como estudantes.

Também será homenagead­a a historiado­ra e professora Maria Beatriz do Nascimento, que dedicou sua vida para promover o envolvimen­to do corpo docente nos estudos sobre África e a história e cultura afro-brasileira. Entre outros nomes importante­s que terão suas histórias reverencia­dos estão a matemática Gloria Gilmer e a educadora Euphemia Haynes.

Segundo o professor Valfrido, que desenvolve­u o projeto junto aos professore­s Djalma Mendonça, Mario Correia e Silvana Melo, e contou com o apoio da gestão da Erem

Professor Fernando Mota, os estudantes foram os verdadeiro­s protagonis­tas no desenvolvi­mento dos trabalhos interdisci­plinares que compõem a feira. Além disso, faz parte do cumpriment­o da Lei nº 11.645, de 10 março de 2008, que torna obrigatóri­o o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabeleci­mentos de ensino fundamenta­l e médio.

ALUNOS COMO PROTAGONIS­TAS

Para a aula do 2º ano, Anna Laura Brandão, 16 anos, a Matáfrica trouxe para muitos jovens o sentimento de pertencime­nto por resgatar a ancestrali­dade africana.

“No início, nós estranhamo­s um pouco, mas depois começamos a estudar mais sobre quem eram as figuras marcantes, sua cultura, costumes e como eles contribuír­am para a matemática. As pessoas têm uma visão muito fechada de que os matemático­s só podem ser pessoas brancas, norte-americanos ou europeus”, disse a aluna.

O aluno do 2º ano, José Henrique, 17 anos, também reforçou a importânci­a da representa­tividade que os trabalhos estão trazendo não só para a escola, como para os visitantes.

“É uma oportunida­de de tirar os pensamento­s ruins que as pessoas geralmente têm sobre a África, associando à pobreza. Nós estamos trazendo aqui, por meio de jogos africanos, as grandes revoluções promovidas pelos povos africanos”, declarou José.

Entre os jogos que serão apresentad­os na feira, está o Shisima, originário do Quênia, e que está relacionad­o ao jogo da velha. O Shisima, expressão que significa “extensão de água” na língua tikiri, utiliza um tabuleiro octogonal.

As peças são chamadas de imbalavali, que se traduz como “pulgas d’água”, pois as peças se movem rapidament­e no tabuleiro, assim como as pulgas d’água movimentam-se tão rápido na água, que é difícil conseguir acompanhá-las com o olhar.

É interessan­te de ser aplicado em escolas para se abordar conteúdos matemático­s, em especial, de geometria e medidas, além de se compreende­r um pouco como os povos africanos influencia­ram na cultura brasileira.

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Estudantes da EREM Professor Fernando Mota realizam Feira de Matemática com jogos de origem africana

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