Governo procura aumentar arrecadação mesmo quando se propõe a dar isenção
No país que está prevendo dar mais R$ 9,7 bilhões à indústria automotiva, o relator do projeto, deputado Átila Lira (PP-PI) um dos mais longevos parlamentares (está Câmara há nove mandatos) do Congresso, introduziu o mais novo jabuti num projeto de lei determinando a volta da cobrança de imposto de importação nas compras de até US$ 50. O projeto do governo prevê que as montadoras implantem com o novo regime de incentivos, atividades de pesquisa e desenvolvimento para mobilidade e logística destinadas adoção de tecnologias mirando o carro híbrido e elétrico.
Lira recebeu a relatoria do projeto do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) como uma homenagem do presidente da casa, Arthur Lira que, apesar do nome em comum, não é seu parente próximo e repetiu a proposta enviada pelo Executivo acrescentando apenas uma linha ao texto de 46 páginas e 31 artigos e ainda assim nas disposições finais.
LINHA DE REVOGAÇÃO
O parlamentar de Piripiri (PI) acrescentou no artigo 31 apenas a seguinte frase: Ficam revogados: o inciso II do art. 2º do Decreto-lei nº 1.804 de 3 de setembro de 1980. E ao justificar seu parecer ao projeto esclareceu que “a revogação da possibilidade de exportações via remessa postal que hoje estão isentas é para não gerar desequilíbrio com os produtos fabricados no Brasil, que pagam todos os impostos”.
O Decreto-lei nº 1.804 é o que dispõe sobre a isenção do imposto de importação dos bens contidos em remessas de valor até US$ 50 dólares quando destinados a pessoas físicas e o que determina que o Ministério da Fazenda fixará as alíquotas especiais.
INDÚSTRI NACIONAL
Não se sabe se Atila Lira está mesmo preocupado com os relatos das indústrias nacionais que estão exercendo uma forte pressão junto a parlamentares com a instituição do programa Remessa Conforme que liberou as importações. Elas têm enviado relatórios sobre as perdas com as importações das asiáticas Shein, Shoppe e Alibaba além da americana Amazon e calculam as perdas para a Receita Federal em até R$2,8 bilhões, até março. Ou se a “sugestão” veio da própria equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
JABUTI DE ÁTILA
Átila Lira é um dos poucos deputados constituintes que ainda está na Câmara. Ele tem profundo conhecimento do regimento interno de modo que é possível que esteja mesmo ajudando ao governo embora a ideia de retomar a cobrança de Imposto de Importação tenha resistências no governo Lula. Mas o “jabuti” do Lira piauiense agradou ao setor porque como o Projeto de Lei Nº 914/2024 tramita em regime de urgência sua aprovação seria sentida mais rápido que os efeitos do projeto do Programa Mover.
APOIO DE JANJA
Mas não será fácil. É que as empresas asiáticas também possuem deputados simpáticos à manutenção da isenção, além da própria primeiradama Rosangela da Silva que garantiu a manutenção da isenção quando estava numa viagem à China com o presidente Lula desautorizando o ministro da Fazenda que articula o fim da isenção no Congresso.
A proposta de Átila Lira porém tem simpatia de um bom número de parlamentares em função do aumento da tributação que o governo Lula. Até porque, além do programa Mover que dará
R$9,7 bilhões do Mover à indústria automotiva já é beneficiada por R$ de outros programas segundo consta no OGU. Mas o fato é que enquanto dá de uma forma, o governo busca arrecadar mais depois de ter aumentado os gastos fiscais com as mudanças do Congresso em 2023.
JUROS SOBRE CAPITAL
Um dessas perdas foi a proibição de tributar os Juros sobre Capital Próprio (JCP) - um tipo de remuneração das empresas a seus acionistas quando o governo esperava arrecadar R$ 10,4 bilhões adicionais com os ajustes na taxação.ç Mas a lei acabou sendo desidratada durante a tramitação no Congresso. Essa perda mais a das importações de US$50 somamram R$13,2 bilhões a menos nas projeções de arrecadação de 2024. Daí a suspeita de que Átila Lira tenha atendido a pedidos da equipe econômica. Até porque esse é um projeto do Executivo.
Isso não quer dizer que a isenção das compras até US$50 resolva o problema fiscal. Mas mostra o tamanho da pressão que o governo está disposto a fazer quando propõe dar incentivos fiscais e se articula para arrecadar mais.
PERSPECTIVA RUIM
O mercado financeiro voltou a aumentar as suas provisões para a taxa Selic em 2024. Segundo o Boletim Focus do Banco Central deverá fechar o ano com uma taxa básica de 9,63% quando há um mês apostava numa Selic de 9,0%. Na semana passada, o Focus já tinha mudado a percepção estimando a taxa em 9,50%. O movimento acontece depois de economistas como o expresidente do BC, Armínio Fraga considerarem precipitada a decisão da agência de classificação Moody’s que melhorou a perspectiva da nota de crédito do Brasil quando deveria ter rebaixado já que vem descuidado no controle das contas públicas.