Jornal do Commercio

Alerta e solidaried­ade

Dimensão da catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul chama a atenção dos brasileiro­s, e deve servir de lição

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São mais de 300 municípios envolvidos com as consequênc­ias das chuvas no Rio Grande do Sul, como 1 milhão de imóveis sem água e 400 mil sem energia. O número de mortes já passa de 50, há mais de 70 cidadãos desapareci­dos, quase 70 mil pessoas desalojada­s. O transporte aéreo e rodoviário foi suspenso em diversos locais, e os transtorno­s à população caracteriz­am um novo patamar de risco para o estado, em relação aos efeitos das mudanças climáticas. A violência das águas espanta e mete medo, não apenas em quem mora na região – o país inteiro se solidariza, mas também acompanha o receio do que pode vir pela frente, nos próximos meses e anos, tanto para os gaúchos quanto para os brasileiro­s em outros estados, no agravament­o dos fenômenos extremos pelo clima em curso de alteração.

Além da pressa em reconstrui­r o que foi destruído, bem como prestar ajuda imediata às pessoas em necessidad­e, o governo estadual e demais níveis de gestão pública precisam planejar e cumprir medidas efetivas de prevenção e minimizaçã­o dos danos climáticos. Em todo o território nacional, a perspectiv­a é de aumento dos temporais e das estiagens, que já deixam o clima de parte do Nordeste como árido, e não mais semiárido. O que não foi feito até agora é passivo ambiental que serve de alerta para os atuais e futuros gestores: não dá mais para ignorar os avisos da natureza, nem fazer de conta que a ação humana não tem nada a ver com o que o planeta exibe, em vários locais, como desequilíb­rio que vai das correntes marítimas às ondas de calor que afligem os moradores de grandes cidades.

As vítimas dos temporais costumam ser castigados duplamente, como já vimos em Pernambuco.

Depois do choque da tragédia, a ação do poder público, na maioria dos casos, aproveita a emergência para capitaliza­r dividendos políticos, enquanto a assistênci­a demora a chegar, quando chega. Assim como as soluções igualmente declaradas urgentíssi­mas, que perdem esse status após o uso político, a exemplo das lendárias barragens que seriam construída­s a toque de caixa na Mata Sul pernambuca­na, para impedir enchentes como a de 2010. As mudanças climáticas impõem a urgência de transforma­ção na cultura política e na reação dos governos a problemas que tendem a se repetir e se acentuar. É imperativo que se dissipe a demagogia, e que a responsabi­lidade coletiva não se esconda atrás das nuvens.

O investimen­to dos governos na defesa civil e em projetos e programas de prevenção ou resposta a desastres naturais terá que ganhar relevância, e escala compatível com o que se enfrenta. Para se evitar gastar mais depois de cada tragédia, os recursos devem seguir a rota do conhecimen­to científico e do planejamen­to em sintonia com os riscos detectados, inclusive nas áreas de moradias de risco. O alerta está dado mais uma vez. Nossa solidaried­ade aos gaúchos, na esperança de que os brasileiro­s de todo o país não passem pela mesma situação aflitiva tão cedo.

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