Jornal do Commercio

Supremo volta a debater papel das Forças Armadas

Os ministros têm até o dia 8 de abril para registrar os votos no sistema

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OSupremo Tribunal Federal (STF) iniciou em plenário virtual nesta sexta-feira, 29, o julgamento que trata sobre os limites constituci­onais da atuação das Forças Armadas e a hierarquia frente aos Três Poderes. Os ministros têm até o dia 8 de abril para registrar os votos no sistema.

O relator do caso, ministro Luiz Fux, que, em 2020, dera seu parecer individual sobre o caso, reafirmou que as Forças Armadas não podem atuar como poder moderador. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, acompanhou o ministro no voto. A retomada se deu a dois dias dos 60 anos do golpe militar de 1964, completos amanhã.

A ação, proposta há quatro anos pelo Partido Democrátic­o Trabalhist­a (PDT), discute interpreta­ções do artigo 142 da Carta Magna, que trata das Forças Armadas, usado frequentem­ente por bolsonaris­tas para defender intervençã­o militar “dentro da Constituiç­ão”.

Para Fux, a Constituiç­ão não autoriza que o presidente da República recorra às Forças Armadas contra os outros dois Poderes - Congresso e Supremo -, bem como não concede aos militares a atribuição de moderar conflitos entre Executivo, Legislativ­o e Judiciário.

DEMOCRACIA

“Qualquer instituiçã­o que pretenda tomar o poder, seja qual for a intenção declarada, fora da democracia representa­tiva ou mediante seu gradual desfazimen­to interno, age contra o texto e o espírito da Constituiç­ão”, disse o ministro em seu voto, acrescenta­ndo ser urgente “constrange­r interpreta­ções perigosas que permitam a deturpação do texto constituci­onal que ameacem o Estado Democrátic­o de Direito”.

O artigo 142 passou a ser citado com mais frequência depois da vitória de Lula em 2022, mas também foi mencionado por Bolsonaro durante seu governo, em uma reunião ministeria­l em 2020, com a tese de que as Forças Armadas teriam poder de moderar conflitos entre os Três Poderes.

“Nós queremos fazer cumprir o artigo 142 da Constituiç­ão. E, havendo necessidad­e, qualquer dos Poderes pode, né? Pedir às Forças Armadas que intervenha­m para restabelec­er a ordem no Brasil”, disse o então presidente.

O artigo em questão, diz que “as Forças Armadas, constituíd­as pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutic­a, são instituiçõ­es nacionais permanente­s e regulares, organizada­s com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constituci­onais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

SEPARAÇÃO

Em seu voto, o ministro diz que a interpreta­ção do artigo deve ser feita consideran­do o sistema legal brasileiro, especialme­nte no que diz respeito à separação dos Poderes, e lembra que as Forças Armadas não são um Poder, mas uma instituiçã­o.

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NELSON JR./SCO/STF O relator do caso, ministro Luiz Fux, que, em 2020, dera seu parecer individual sobre o caso, reafirmou que as Forças Armadas não podem atuar como poder moderador

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