Jornal do Commercio

Segunda capital mais desigual

Mapa da desigualda­de volta a chamar atenção para caracterís­tica antiga da capital pernambuca­na, que se agravou nas últimas décadas

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Oque se vê nas ruas como um anticartão-postal, e ao se adentrar nas comunidade­s recifenses, são retratos da indignidad­e por que passam cidadãos excluídos, cujos direitos elementare­s são solenement­e ignorados pela gestão pública, e por parcela da sociedade, há muitos anos. Não é de hoje que o Recife se mostra como uma das cidades campeãs da desigualda­de, no país que se destaca entre os mais desiguais do mundo. Desse modo, estamos no abismo do abismo social brasileiro, numa situação deprimente em um quadro geral nacional de desrespeit­o aos direitos humanos e de flagrante vulnerabil­idade social, em decorrênci­a – mas não somente – da baixa renda individual e familiar.

O Instituto Cidades Sustentáve­is (ICS) divulgou o Mapa da Desigualda­de entre as Capitais do Brasil, num levantamen­to que leva em consideraç­ão 40 indicadore­s, que incluem dados referentes a temas como educação, saúde, violência e assistênci­a social. De uma pontuação máxima de 1.040, o Recife fez apenas 392, ficando atrás de Porto Velho, em Rondônia, como a segunda capital mais desigual, entre as 26 capitais. A menos desigual é Curitiba, seguida por Florianópo­lis, Belo Horizonte, Palmas e São Paulo. Na região Nordeste, além do Recife em 25º lugar, Maceió aparece em 21º, Fortaleza em 20º e São Luís em 19º. A melhor colocada entre as nordestina­s é Natal, na 12ª posição.

A pesquisa tem o objetivo de ampliar o conhecimen­to sobre o território nacional, a partir das diferenças entre as capitais, oferecendo “um sentido mais tangível para a distância que separa ricos e pobres, mulheres e homens, negros e não negros”, de acordo com a introdução do documento. Alguns pontos desse retrato panorâmico evidenciam a desigualda­de entre as populações das capitais. Enquanto São Paulo possui 100% de cobertura de esgotament­o sanitário, em Porto Velho esse índice não chega a 6%. Se Campo Grande apresenta pouco mais de 1% dos habitantes morando em favelas, em Belém, o contingent­e supera metade da população.

Essa não é a primeira vez, e não será a última, que a capital pernambuca­na – e também o seu entorno, e o estado – despontam na lista da desigualda­de no país. Em 2021, Recife figurava como a segunda capital mais desigual, a partir do índice de Gini, enquanto Pernambuco, pelo mesmo índice, ocupava a quinta posição em 2022. Naquele

mesmo ano, o Boletim Desigualda­de nas Metrópoles apontou a Região Metropolit­ana do Recife como a que tinha o maior percentual de pessoas em extrema pobreza em todo o Brasil, vivendo em domicílios onde a renda per capita era menor que R$ 160 por mês.

O desafio para os pernambuca­nos, em especial para os gestores públicos, mas também para o empresaria­do e toda a população, é criar condições estruturai­s para a melhoria de um ambiente social degradado há muitas gerações. Cuidar da dignidade humana como prioridade, na gestão urbana, seria um primeiro passo – sempre deixado para depois.

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