Cidades e inclusão: desafios históricos e o futuro
Para além de visões ideológicas distorcidas, o eleitor cidadão deve ser o maior beneficiário de uma nova forma de viver nas cidades.
Avida em sociedade, há algum tempo, se tornou urbana. Isso quer dizer que, em detrimento das zonas rurais, as dinâmicas sociais, econômicas e políticas acontecem, prioritariamente nas áreas urbanas, o que implica na construção de espaços mais humanizados, inclusivos, resilientes e prósperos. Um baita desafio, sobretudo quando novas demandas passam a compor as agendas do mundo atual perante questões históricas que ainda não foram superadas.
Estudos do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (Onu-habitat) apontam que 80% do PIB global vem das cidades, as quais apresentam níveis de produtividade mais altos do que os das áreas rurais. O crescimento delas é expressivo ao longo de décadas e a estimativa é que a população urbana aumente em 2,2 bilhões de pessoas anualmente até 2050. A busca por segurança sanitária, a partir da pandemia da Covid 19, levou contingentes populacionais a procurarem cidades menores ou o campo, mas, ainda assim, a tendência de crescimento urbano se mantém.
Apesar de concentrarem boa parte dos problemas socioeconômicos, as cidades são e tendem a permanecer como uma seara de oportunidades para pessoas que buscam emprego, educação ou refúgio de conflitos. Na publicação “Nova Agenda Urbana”, documento da ONU que apresenta os alicerces para o desenvolvimento sustentável, estão propostas as diretrizes para que as pessoas tenham direitos e acesso iguais aos benefícios e oportunidades que as cidades podem oferecer. Olhando a realidade brasileira à luz desta publicação, fica evidente a tarefa dos governos ainda a ser cumprida.
2024 é um ano eleitoral e que tal conseguíssemos pautar o debate para a construção de modelos de cidades capazes de torná-las mais acolhedoras e sustentáveis, centradas nas pessoas? Quando percorremos as diversas regiões do Brasil, observamos o acúmulo de questões que historicamente marcam a nossa sociedade e nos fazem ter indicadores vexatórios. Só para mencionar um aspecto, o déficit habitacional demonstra que as cidades não são feitas para todos os cidadãos. Conforme dados da Fundação João Pinheiro, entre 2016 e 2019, o déficit habitacional no Brasil cresceu de 5.768.482 para 5.964.993 moradias, com destaque para as regiões Norte e Nordeste, com o maior déficit em termos relativos.
Qualidade de vida e preservação do meio ambiente devem ser os pilares centrais para a construção de cidades sustentáveis. Os espaços públicos - ocupados de maneira desordenada, caótica e não planejada - precisam, de forma emergencial, ser repensados. Projetos transformadores carecem de recursos, mas também de visão política, de atuação coletiva e de protagonismo das pessoas para dizer o que desejam e como enxergam as melhorias para todos. Para além de visões ideológicas distorcidas, o eleitor cidadão deve ser o maior beneficiário de uma nova forma de viver nas cidades.