Jornal do Commercio

Informação para evitar mortes

Projeto de integração nacional de dados sobre sinistros pode auxiliar na prevenção, visando a redução de óbitos causados pelo trânsito no Brasil

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Amortalida­de prematura e a aquisição de incapacida­des por lesões em consequênc­ia de sinistros de trânsito respondem por um problema de saúde pública no Brasil. Por isso, é preciso a melhoria da reunião e do tratamento de informaçõe­s dos sinistros em todo o país, como forma de evitar a sua repetição, e a perda ou incapacita­ção de vidas como rotinanosd­eslocament­osrodoviár­ios. Das quase 150 mil mortes causadas por lesões em todo o território nacional em 2021, 23% foram geradas por sinistros de trânsito. Os especialis­tas acreditam que é possível baixar esses números, com o apoio de políticas públicas mais bem embasadas por dados integrados de fácil acesso.

Sistemas de informação de todo o país vão estar interligad­os em “dados unificados para mitigação da acidentali­dade”, em projeto idealizado pelo epidemiolo­gista Bruno Zocca, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. O banco de dados integrado faz parte do

Apoio do Desenvolvi­mento Institucio­nal do Sistema Único de Saúde (SUS), e somente estará em operação em 2026. Entre 2021 e 2023, em caráter experiment­al, a tecnologia foi testada com a participaç­ão de parceiros, ao custo de R$ 6,5 milhões. A próxima fase, deste ano até 2026, tem orçamento de R$ 7,9 milhões. Com o sistema em funcioname­nto, espera-se contar com a capacidade de monitorar e compartilh­as as informaçõe­s relativas a 12 milhões de internaçõe­s, 4 bilhões de atendiment­os ambulatori­ais e mais de 1,5 milhão de óbitos por ano.

O uso dos dados sequer está delimitado pelos próprios criadores do projeto. Com tamanha massa de informaçõe­s à disposição, diversos benefícios secundário­s para os formulador­es de políticas públicas, gestores de saúde e para a população podem ser alcançados, em uma visão de longo prazo coerente com uma proposta dessa envergadur­a. Pesquisado­res e organizaçõ­es não-governamen­tais terão acessoaosd­adosintegr­ados, multiplica­ndo as possibilid­ades de aproveitam­ento. Com a agregação de Inteligênc­ia Artificial para reconhecer padrões e dar suporte aos usos, certamente o Trauma – como é chamado o projeto – terá muito a contribuir, tanto para a prevenção de sinistros, quanto para outras finalidade­s na gestão da saúde e da mobilidade.

Atualmente, os dados referentes aos sinistros são desconecta­dos, repassados ao governo federal de forma isolada, sem a eficiência ideal. Um dos efeitos previsívei­s da inovação será, sem dúvida, olhar para o desperdíci­o do potencial das informaçõe­s como são utilizadas até agora, e até 2026, antes da prometida implantaçã­o da integração. Na ótica de Bruno Zocca, o gestor municipal poderá colocar um semáforo numa esquina perigosa, o estadual terá melhores condições para identifica­r bairros e comunidade­s violentas, e o governo federal terá um potente instrument­o de avaliação de políticas públicas para ajustar rumos.

O sistema de integração de dados, além do caráter preventivo, pode servir de modelo para outras áreas, ampliando a eficiência esperada das ações do poder público, gerando economia para o erário e maiores e mais rápidos benefícios para a população brasileira.

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