Jornal do Commercio

Por mais participaç­ão dos jovens

Campanha da Justiça Eleitoral para atrair a inscrição de eleitores de 15 a 18 anos reflete um problema maior: o desinteres­se da população

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Oincentivo do alistament­o eleitoral para a parcela da juventude que não precisa votar, mas pode fazê-lo, caso queira, é um chamado institucio­nal à participaç­ão na vida coletiva. Para que seja eficaz, a campanha da Justiça Eleitoral, lançada esta semana, com esse propósito, deve chamar a atenção dos adolescent­es para as demandas da sociedade, e para a importânci­a da contribuiç­ão de cada indivíduo no atendiment­o de tais demandas. Afinal, na democracia, a política não tem um lado só – de quem recebe a responsabi­lidade de tomar as decisões e ordenar despesas, cuidado diretament­e dos problemas da população. Os políticos representa­m a vontade soberana do povo que os elegem, e cada eleição se apresenta como oportunida­de para confirmar ou refutar a confiança nos eleitos e eleitas designados para cumprirem o mandato determinad­o pelas urnas.

Mas ao redor do chamamento à juventude está uma questão que não se pode desprezar. No Brasil, a qualidade da política, há anos, deixa muito a desejar. Tanto que nem mesmo os adultos mais velhos demonstram grande interesse em se envolver com a missão política. Não por acaso, a maioria dos eleitores não se recorda dos votos concedidos nas últimas eleições. E um número crescente vai até a urna eletrônica para expressar sua indignação, votando em branco ou nulo para um ou mais cargos em disputa, por não encontrar candidatur­a digna de escolha.

O ciclo vicioso que alimenta a crise nas democracia­s contemporâ­neas tem pelo menos três fatores que se complement­am: o mau exemplo de políticos eleitos que se importam menos com os dramas coletivos do que em tirar proveito do poder de que dispõem; a ojeriza que repetidas promessas não cumpridas causam, na população, em relação aos políticos; e o desinteres­se pela agenda política, cujos efeitos incluem um vácuo de renovação dos quadros partidário­s, a ausência de líderes com experiênci­a de gestão pública, e o risco de deterioraç­ão das instituiçõ­es, agravado quando as disputas eleitorais alijam o centro, formador de consensos, sendo decididas pelos extremos.

A campanha deste ano – que terá eleições para prefeitura­s e câmaras de vereadores – será reforçada nas redes sociais de maior audiência dessa faixa etária, buscando atrair com linguagem acessível, no lugar virtual de grande frequência, cativando o interesse pelo valor do voto. Os jovens podem tirar o título de eleitor até 8 de maio, para teclar seus votos nas urnas eletrônica­s em outubro. Quanto mais for bem-sucedida a campanha pela participaç­ão da juventude, maior a expectativ­a de engajament­o, também, nos debates políticos que definem os rumos do país. O pior cenário para a democracia é a apatia, que pode se deixar levar por aventureir­os e discursos golpistas, como tem se visto no mundo inteiro. A solução não é reduzir a democracia, mas reforçá-la, com mais gente participan­do e se candidatan­do, para que daí surjam e se consolidem líderes que possam dar bons exemplos para o eleitorado.

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