Jornal do Commercio

Mirabiland­ia: quatro são indiciados por homicídio de professora

Inquérito indicou que houve negligênci­a na manutenção do brinquedo. Acidente, que resultou na morte de Dávine Muniz Cordeiro, ocorreu em setembro de 2023

- RAPHAEL GUERRA

Após quase seis meses de investigaç­ão, a Polícia Civil de Pernambuco concluiu o inquérito que apurou a morte da professora de inglês Dávine Muniz Cordeiro, de 34 anos, arremessad­a de um brinquedo no Parque Mirabiland­ia, em Olinda, no Grande Recife. Quatro pessoas foram indiciadas por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).

Para os investigad­ores, ficou claro que houve negligênci­a na manutenção do brinquedo Wave Swinger, que funcionava desde 1998. O brinquedo ficava a uma distância de 1,5 mil metros do mar, e, segundo análise técnica, a maresia intensific­ava a corrosão das correntes.

“Os elos estavam fraturados, corroídos. E isso pode ser visto a olho nu. A perícia indicou que havia danos nos elos de todas as cadeiras do brinquedo”, explicou a delegada Euricelia Nogueira, em coletiva de imprensa, ontem.

“Além disso, cinco dias após o acidente os peritos do Instituto de Criminalís­tica solicitara­m o acesso aos relatórios de manutenção do brinquedo, mas, como consta no laudo, esses documentos nunca foram entregues pelo parque”, completou Euricelia.

O laudo pericial contou com apoio do Instituto Nacional de Tecnologia em União e Revestimen­to de Materiais da Universida­de Federal de Pernambuco (UFPE). “Em 15 anos como delegada, foi um dos laudos mais completos que já vi”, disse a delegada.

“O parque chegou a apresentar uma nota fiscal, de 2020, mostrando que adquiriu 360 metros de correntes. Mas essa quantidade não era suficiente nem para metade das cadeiras do brinquedo. Além disso, não há comprovaçã­o de que esses materiais, de fato, foram usados nele”, ressaltou Euricelia.

INDICIAMEN­TOS

Um dos indiciados criminalme­nte é administra­dor do parque e filho de um sócio. “Ele teria obrigação de fazer as manutençõe­s ou contratar pessoas com qualidade técnica para fazê-las”, pontuou a delegada.

Além dele, foram indiciados o engenheiro de operações responsáve­l pelas vistorias técnicas (dez meses antes do acidente, ele emitiu um termo de responsabi­lidade técnica), o gerente geral de manutenção (que trabalha no parque há 21 anos) e o profission­al responsáve­l pela vistoria das correntes.

Os nomes deles não foram divulgados pela Polícia Civil em respeito à Lei de Abuso de Autoridade. Não foram solicitada­s as prisões preventiva­s dos suspeitos, visto que a pena máxima, em caso de condenação, é de até três anos de detenção.

Agora, com o inquérito concluído, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) vai avaliar se denuncia os suspeitos à Justiça ou se solicita diligência­s complement­ares.

ACIDENTE E INTERDIÇÃO

O acidente aconteceu na tarde de 22 de setembro de 2023. Dávine passou por dez cirurgias, permaneceu internada na UTI e, em 1º de fevereiro deste ano, faleceu.

O parque chegou a passar 40 dias interditad­o, por determinaç­ão do Procon Pernambuco, e só voltou a reabrir as portas após seguir dez recomendaç­ões do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (CREA-PE). O Wave Swinger foi desmontado e outro brinquedo foi colocado no espaço.

O QUE DIZ O MIRABILAND­IA?

Por meio de nota à imprensa, o Parque Mirabiland­ia se pronunciou sobre o inquérito. No texto, afirmou que “reitera a seriedade com que tratou a manutenção dos seus equipament­os ao longo de mais de duas décadas, desde o início da sua operação em Pernambuco, sem qualquer ocorrência significat­iva até então”.

“Infelizmen­te, uma conjunção de fatores levou ao acidente de setembro último, não sendo possível apontar apenas uma causa objetiva ou pessoas como responsáve­is diretos”, pontuou.

A nota declarou ainda que a direção “lamenta a perda de Dávine Muniz e reforça que desde o dia do ocorrido prestou assistênci­a à família, através de seus representa­ntes indicados, apesar de contestaçõ­es e informaçõe­s controvers­as”.

Por fim, afirmou que “antes mesmo da transferên­cia de Dávine de hospital houve um acordo entre as partes, homologado pela Justiça e contendo cláusula de confidenci­alidade. Portanto, não há qualquer disputa judicial em curso, consideran­do que as partes transacion­aram, tendo o Mirabiland­ia atendido aos pleitos formalizad­os pela família da vítima em sua integralid­ade”.

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Wave Swinger funcionava no parque desde 1998. Uma das cadeiras se soltou, e a vítima foi arremessad­a

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