Jornal do Commercio

A solução final

Não se pode comparar as ações de Israel contra o Hamas àquelas praticadas pelos nazistas de Hitler. As duas têm distintos determinan­tes políticos, econômicos e militares. São tragédias diferentes não só nos seus tempos históricos, mas também nos seus méto

- JORGE JATOBÁ Jorge Jatobá, economista

Esta foi a forma como Hitler se referiu à horrenda máquina da morte montada pelo nazismo para exterminar os judeus. Seis milhões deles e de outras minorias foram assassinad­os numa tragédia humanitári­a sem paralelo na história do planeta. A memória do Holocausto ainda emite uma profunda dor como numa ferida exposta à agressão animal. A indevida e inapropria­da fala do Presidente Lula em infeliz entrevista coletiva na Etiópia provocou criticas contundent­es do Governo de Israel, de judeus de todo o mundo, inclusive brasileiro­s, e de pessoas que sabem distinguir o significad­o deste evento único de outros genocídios praticados ao longo da História. O Julgamento de Nuremberg (194546) documentou para a eternidade a violência e crueldade dessa insanidade que foi minunciosa­mente planejada e executada para exterminar o povo judeu.

Os atos terrorista­s praticados, com mortos e reféns, pelo Hamas são inequivoca­mente condenávei­s, merecendo contundent­e repulsa e Israel tem todo o direito de se defender. O que se observou, todavia, ao longo destes últimos quatro meses foram iniciativa­s militares eivadas de um sentimento de ódio e vingança que se projetaram muito além do dever de defender a integridad­e do território e as vidas israelense­s. Neste processo milhares de palestinos não integrante­s do Hamas, população civil formada na maioria por mulheres e crianças, foram mortos pelo poderio militar de Israel. Os relatos dessas ações têm chocado e preocupado sociedades e governos em todo o mundo. Destruição, morte e sofrimento atingem milhares de residentes de Gaza, agora encurralad­os em Rafah, aguardando com terror a ofensiva final para que as forças armadas de Israel dominem totalmente o território.

O objetivo do Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, líder de um governo de extrema direita, é eliminar o Hamas. Essa decisão do Governo israelense foi anunciada urbi et orbi como uma solução definitiva. Todavia, nunca o fará como não foi possível fazê-lo quando a Alemanha Nazista e seus instrument­os de morte tentaram eliminar os judeus. Argumento que o Hamas não será eliminado, mas sairá fortalecid­o politicame­nte pelo ódio secular gerado do conflito e que será herdado por gerações. Os inúmeros confrontos impuseram perdas dolorosas às famílias, deixando milhares de órfãos. A morte de um terrorista estimula o surgimento de outros e a morte de civis inocentes pode levar muitos a se tornarem terrorista­s. Não haverá solução final para o Hamas como não houve para os judeus durante os terríveis anos da Segunda Guerra Mundial. O governo dos EUA, aliado incondicio­nal de Israel, tem deixado isso claro para as lideranças políticas israelense­s.

Os confrontos entre palestinos e judeus são milenares e continuarã­o enquanto não prevalecer o mínimo de bom senso e de boa vontade entre as lideranças civis e os braços militares. A criação de dois estados, um palestino e outro judeu, é rejeitada tanto pelo Hamas quanto pelo atual governo de Israel, mas é apoiada pela maioria dos países do mundo, inclusive o Brasil. Os palestinos almejam um Estado para si. Sem um Estado palestino não haverá paz. Conflitos intermiten­tes poderão ser cada vez mais sangrentos ao longo da História, constituin­do-se em ameaça à paz mundial em decorrênci­a do envolvimen­to de outras potências globais, como os EUA, e regionais, como o Irã.

Não se pode comparar as ações de Israel contra o Hamas àquelas praticadas pelos nazistas de Hitler. As duas têm distintos determinan­tes políticos, econômicos e militares. São tragédias diferentes não só nos seus tempos históricos, mas também nos seus métodos e na sua escala. A solução final não venceu no passado nem prevalecer­á no futuro graças à imensa força que emerge dos seres humanos para sobreviver aos genocídios e as guerras.

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AFP Aumento na violência na Faixa de Gaza e ataques aéreos de Israel ampliam número de mortos todo dia

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