Jornal do Commercio

Déficit de policiais no país

Enquanto o crime organizado aumentou seu domínio, o Brasil viu diminuir a quantidade de policiais em uma década

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Nas últimas décadas, a falta de segurança vem sendo apontada em diversas pesquisas como uma das principais preocupaçõ­es dos brasileiro­s. A violência amedronta a população no transporte público, nas praças e ruas, ou nas próprias residência­s, numa angústia sem trégua. As prisões abarrotada­s não ressociali­zam ninguém, pelo contrário, estimulam a criminalid­ade para quem consegue sair, e ainda saíram do poder de controle do Estado, passando para a gestão dos bandidos, que fazem questão de mostrar que mandam ordens para o crime do lado de fora. A recente fuga de dois presos na penitenciá­ria federal de segurança máxima, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, apenas reforçou a desconfian­ça dos cidadãos com um sistema ineficient­e, cheio de problemas estruturai­s e marcado pela desarticul­ação entre os entes federativo­s e as instituiçõ­es da República.

Levantamen­to do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela um déficit de policiais que, se não explica o medo generaliza­do, constitui fator de agravament­o de uma situação que se arrasta há anos. Entre 2013 e 2023, os efetivos policiais militares nos estados diminuíram quase 7% em média, enquanto a polícia civil e os peritos tiveram seus contingent­es reduzidos em 2%. A queda não faz sentido, numa conjuntura de escalada de crimes como a brasileira. O inverso é o que seria de se esperar, com mais policiais e técnicos trabalhand­o pela segurança da população. Ao contrário de outras categorias profission­ais, a tecnologia não vem substituin­do os trabalhado­res de segurança em larga escala, e muito menos, apresentan­do resultados satisfatór­ios que dispensem a necessidad­e de pessoal.

Com 404 mil policiais militares distribuíd­os em todo o país, existem 30 mil a menos do que em 2013, o que representa menos de 70% das 584 mil vagas que deveriam estar preenchida­s. Em Pernambuco, no final do ano passado, eram 16,5 mil policiais militares, enquanto o previsto é de praticamen­te 28 mil, ou seja, em mais um dado importante, o estado se encontra abaixo da média nacional, com 59% do efetivo preenchido para a PM. Vale recordar que essa realidade vem do déficit acumulado em governos anteriores, uma vez que a atual governador­a, Raquel Lyra, está buscando recompor o quadro, abrindo concursos para elevar o efetivo. Mesmo assim, a situação continua indicadora do nível de violência em descontrol­e em Pernambuco.

O déficit se repete na polícia civil, cuja média nacional é de 63% do efetivo preenchido – e menos de 50% em Pernambuco. As categorias se queixam – e pelos números, com razão – de sobrecarga e desvaloriz­ação. A contrataçã­o é urgente, para aliviar a pressão sobre os policiais e elevar a sensação de segurança na população, com o sistema cumprindo a responsabi­lidade da proteção. Os concursos em andamento no estado, por sua vez, e a formação de turmas a partir do ano que vem, podem contribuir muito para o início da reversão do domínio do crime e do cotidiano violento em território pernambuca­no.

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