Jornal do Commercio

Caso Marielle: quem é Domingos Brazão, citado em delação de Ronnie Lessa

Conselheir­o do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) voltou a ser alvo de delação dos executores do assassinat­o da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes

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Oconselhei­ro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Inácio Brazão, voltou a ser alvo de delação dos executores do assassinat­o da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Ele é apontado por Ronnie Lessa como mandante do crime, segundo o site The Intercept Brasil. O acordo de colaboraçã­o não foi homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em outubro do ano passado, o ex-policial militar Élcio Queiroz - o primeiro acusado a assumir a coparticip­ação no assassinat­o - citou Brazão em delação, o que fez com que o caso fosse remetido ao STJ.

Brazão pavimentou sua trajetória política nos subúrbios e na zona oeste do Rio. Foi em alguns dos bairros mais pobres e afastados do centro que o hoje conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado conseguiu os votos que lhe deram o primeiro mandato, de vereador, em 1996. Em abril de 2015, foi eleito conselheir­o do TCE - cargo vitalício, com garantias semelhante­s às dos magistrado­s do Judiciário -, com 61 votos.

Um relatório da Polícia Federal (PF) de 2019 apontou Brazão como o “principal suspeito de ser autor intelectua­l” dos assassinat­os da vereadora e do motorista. O conselheir­o do TCE sempre negou a participaç­ão no crime. Ele já havia sido denunciado em 2019 pela então procurador­a-geral da República Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigaç­ão, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido.

“Domingos Brazão, valendo-se do cargo, da estrutura do seu gabinete no Tribunal Contas do Estado do Rio, acionou um de seus servidores, agente da Polícia Federal aposentado, mas que exercia cargo nesse gabinete, para engendrar uma simulação que consistia em prestar informalme­nte depoimento­s perante o delegado Hélio Kristian e, a partir daí, levar uma versão dos fatos à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o que acabou paralisand­o a investigaç­ão ou conduzindo-a para um rumo desvirtuad­o por mais de um ano”, afirmou Dodge à época da denúncia.

O advogado Márcio Palma, que defende Brazão, diz que por mais de uma ocasião, pediu acesso à investigaç­ão, tendo seus pedidos sido negados, “motivo pelo qual desconhece o teor dos elementos contidos no inquérito”.

“Para além de tais informaçõe­s, esclarece não conhecer os personagen­s da trama delituosa. Esclarece, ainda, que jamais teve qualquer envolvimen­to com eles e tampouco relação com os fatos. Diante das especulaçõ­es que buscam envolvê-lo no delito, destaca que as matérias apresentam razões inverossím­eis para tentar lhe trazer para o bojo das investigaç­ões, evidencian­do assim a inexistênc­ia de motivação que possa lhe vincular ao caso Por fim, coloca-se à disposição para todo esclarecim­ento e espera que os fatos sejam concretame­nte esclarecid­os, de modo a encerrar a tentativa de lhe associar ao trágico enredo”, diz em nota enviada ao Estadão.

INFLUÊNCIA POLÍTICA

Brazão até hoje mantém influência política, por meio dosirmãosc­hiquinhobr­azão (União Brasil), deputado federal, e Pedro Brazão (União Brasil), deputado estadual. Em eleições passadas, chegou a emprestar o sobrenome a outros candidatos sem parentesco com ele. Outras acusações recorrente­s são de ligação com milícias, que atuam em bairros onde tem muitos votos.

Polêmico, já admitiu ter matado um homem em 1987. O processo ficou parado, subiu para o Tribunal de Justiça em 2000 (depois que se tornou deputado estadual). Em 2002, a Corte Especial rejeitou a condenação. “A Justiça me deu razão”, teria dito na Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro (Alerj).

Em 29 de março de 2017, veio a queda. Ele foi um dos alvos de operação que prendeu e afastou cinco conselheir­os do TCE acusados de corrupção. A Justiça determinou o retorno dele à Corte em março de 2023. Na vida política, é temido. Adversário­s relatam supostas ameaças, o que ele nega.

APOIO POLÍTICO

A citação ao nome de Brazão na delação da Élcio Queiroz, no ano passado, e a possível citação por Ronnie Lessa, reacendeu a disputa narrativa sobre a qual grupo político o conselheir­o do TCE é ligado: ao bolsonaris­mo ou ao petismo.

Na política fluminense, o clã Brazão sempre atuou de forma pragmática. Ex-filiado ao MDB, Domingos Brazão fez campanha pela reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014, antes de se tornar conselheir­o do TCE. Na época, posou em fotos ao lado do ex-deputado federal Eduardo Cunha em carreatas pelo Rio

Em abril do ano seguinte, o então parlamenta­r foi aprovado para o TCE do Rio e, desde então, não fez mais posicionam­entos políticos públicos.

O legado da família Brazão na política fluminense se manteve. O irmão de Domingos Brazão, o deputado federal Chiquinho Brazão fez campanha para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição do ano passado.

“Pelo bem do País, fizemos uma bela carreata de apoio à reeleição do Presidente Jair Bolsonaro. Percorremo­s diversas ruas de Jacarepagu­á e bairros adjacentes, e por onde passamos não tinha outra manifestaç­ão a não ser ‘vamos com Bolsonaro’”, escreveu nas redes sociais.

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REPRODUÇÃO Conselheir­o do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Inácio Brazão, é apontado pela PF como o “principal suspeito de ser autor intelectua­l” dos assassinat­os da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes

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