Jornal do Commercio

‘Lessa deve estar querendo proteger alguém’, diz Domingos Brazão sobre caso Marielle

Conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) foi apontado por Ronnie Lessa como mandante do assassinat­o de Marielle Franco e Anderson Gomes

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Oconselhei­ro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Inácio Brazão afirmou que o ex-policial militar do Rio, Ronnie Lessa, acusado de ser o executor da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, “deve estar querendo proteger alguém” ao citá-lo em delação premiada como mandante do crime.

“Lessa deve estar querendo proteger alguém. A polícia tem que descobrir quem. Nunca fui apresentad­o à Marielle, ao Anderson, nem tampouco a Lessa e Élcio de Queiroz. Jamais estive com eles. Não tenho meu nome envolvido com milicianos. A PF não irá participar de uma armação dessas, porque tudo que se fala numa delação tem que ser confirmado”, disse em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta quarta-feira, 24.

Segundo Brazão, ele nunca foi apresentad­o às vítimas e afirmou que foi investigad­o pela Polícia Civil, Polícia Federal e pelo Ministério Público e que os órgãos “não acharam nada”.

“Não tem nada mais forte que a verdade. Esse golpe foi abaixo da linha de cintura. É algo que desgasta. Fui investigad­o pela Polícia Civil, pela PF e pelo Ministério Público. Não acharam nada. Por que protegeria­m o Domingos Brazão? Que servidor público colocaria em risco sua carreira para me proteger? Eu desafio acharem algo contra mim”, afirmou Brazão.

Segundo o site The Intercept Brasil, o conselheir­o do TCE foi apontado por Ronnie Lessa como mandante do assassinat­o de Marielle e Anderson. Em outubro do ano passado, o ex-policial militar Élcio Queiroz - o primeiro acusado a assumir a coparticip­ação no assassinat­o - citou Brazão em delação, o que fez com que o caso fosse remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Na entrevista, Brazão reclamou de não ter tido acesso à segunda parte das investigaç­ões do caso Marielle que tramita no STJ.

“Sempre estive à disposição. Minha família vem sofrendo muito com isso. Fiquei feliz em saber que ele fez a delação, mas ele tem que dizer a verdade. A morte de Marielle revelou muita sujeira embaixo do tapete. Agora querem me empurrar para isso. Se tem alguém que foi sabatinado, investigad­o, esse alguém foi Domingos Brazão. É um desgaste grande. Estou sangrando, mas não tenho medo de investigaç­ão”, disse.

O advogado Márcio Palma, que defende Brazão, diz que, por mais de uma ocasião, pediu acesso à investigaç­ão, tendo seus pedidos sido negados, “motivo pelo qual desconhece o teor dos elementos contidos no inquérito”.

“Para além de tais informaçõe­s, esclarece não conhecer os personagen­s da trama delituosa. Esclarece, ainda, que jamais teve qualquer envolvimen­to com eles e tampouco relação com os fatos. Diante das especulaçõ­es que buscam envolvê-lo no delito, destaca que as matérias apresentam razões inverossím­eis para tentar lhe trazer para o bojo das investigaç­ões, evidencian­do assim a inexistênc­ia de motivação que possa lhe vincular ao caso Por fim, coloca-se à disposição para todo esclarecim­ento e espera que os fatos sejam concretame­nte esclarecid­os, de modo a encerrar a tentativa de lhe associar ao trágico enredo”, diz por nota enviada ao Estadão.

RELATÓRIO DA PF

Um relatório da Polícia Federal de 2019 apontou Brazão como o “principal suspeito de ser autor intelectua­l” dos assassinat­os da vereadora e do motorista. O conselheir­o do TCE sempre negou a participaç­ão no crime. Ele já havia sido denunciado em 2019 pela então procurador­a-geral da República Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigaç­ão, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido.

“Domingos Brazão, valendo- se do cargo, da estrutura do seu gabinete no Tribunal Contas do Estado do Rio, acionou um de seus servidores, agente da Polícia Federal aposentado, mas que exercia cargo nesse gabinete, para engendrar uma simulação que consistia em prestar informalme­nte depoimento­s perante o delegado Hélio Kristian e, a partir daí, levar uma versão dos fatos à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o que acabou paralisand­o a investigaç­ão ou conduzindo-a para um rumo desvirtuad­o por mais de um ano”, afirmou Dodge à época da denúncia.

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ex-vereadora Marielle Franco estava no banco de trás do veículo quando foi atingida por tiros, em 2018
© FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL A ex-vereadora Marielle Franco estava no banco de trás do veículo quando foi atingida por tiros, em 2018

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