Jornal do Commercio

Integração nacional é a melhor estratégia

Sem articulaçã­o institucio­nal ampla entre os poderes, os níveis de governo e os agentes de operação, o crime – organizado ou não – continuará fora de controle

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Ocaos da segurança pública em Pernambuco não é estranho no cenário cotidiano dos cidadãos brasileiro­s. No Rio de Janeiro ou em São Paulo, noutros estados do Nordeste, a situação é difícil para as polícias, para os gestores públicos e, sobretudo, para a população amedrontad­a e à mercê dos bandidos, cada vez mais cientes da impunidade reinante, e organizado­s em facções que desafiam as leis e as instituiçõ­es, sem medo – já que a estrutura institucio­nal se mostra incapaz de ameaçá-los. Além disso, a componente social de empobrecim­ento e alargament­o da miséria, em função da profunda desigualda­de no país, mistura a profission­alização do crime à vulnerabil­idade de indivíduos que recorrem à violência para buscar meios de sobrevivên­cia, sua e da família. O quadro social não justifica a criminalid­ade, obviamente – mas há inescapáve­l reflexo entre ambos, de tal modo que não se pode pensar em uma política de segurança pública, em qualquer lugar do mundo, sem a abordagem de políticas sociais.

Com praticamen­te 6% de aumento nas mortes violentas intenciona­is no ano passado em Pernambuco, matança que significou a perda de 3.632 vidas, o governo estadual repete roteiro já visto em outros pré-carnavais – literalmen­te: a troca de comando na cúpula das polícias já ocorreu antes, não faz muito tempo, na gestão anterior à de Raquel Lyra. Embora haja peculiarid­ades em cada governo, o que importa para os cidadãos é que a efetividad­e dos programas de segurança pública segue sendo baixa, aqui e em outros estados. E por mais que se corrijam os rumos e se renovem as equipes, não mudam as dificuldad­es, nem se superam os obstáculos, entre outros fatores, pela desarticul­ação na implantaçã­o das estratégia­s propagande­adas como inovadoras, junto a metas que não são alcançadas. Enquanto isso, os criminosos aproveitam e avançam.

O ânimo dos bandidos é reforçado pela impunidade, que não passa desaperceb­ida pela população. Nos episódios de brigas e crimes em clássicos de futebol, o verdadeiro torcedor já sabe que muitos criminosos infiltrado­s na torcida não são presos, por mais arruaça que façam. A redução da impunidade depende da participaç­ão da Justiça, no esforço conjunto de combate à criminalid­ade. Sem punição, a lógica é que a violência não apenas continue, mas aumente, e é o que vem acontecend­o. Ou o poder Judiciário compreende o panorama da inseguranç­a como sendo também consequênc­ia da impunidade, ou governos e forças policiais continuarã­o tendo muito mais trabalho, compartilh­ando a ineficiênc­ia de um sistema fragmentad­o, capaz de poucos resultados.

A criação do Sistema Único de Segurança Público (Susp) foi um passo importante na direção correta. Porém de nada vale, sem a implementa­ção na prática. Todos os entes públicos possuem responsabi­lidades a cumprir, do governo federal às prefeitura­s, passando pelos governos estaduais. O objetivo há de ser o mesmo, perseguido conjuntame­nte: a melhoria institucio­nal das condições de segurança, para a garantia do fundamento do bem-estar coletivo nas cidades brasileira­s.

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