Jornal do Commercio

Dar dinheiro a grande empresa não vira emprego, alerta economista

Em entrevista à Rádio Jornal, o ex-presidente do Insper e economista Marcos Lisboa, comenta o lançamento do programa Nova Indústria Brasil, com receio que a política repita iniciativa­s semelhante­s e fracassada­s no País

- ADRIANA GUARDA

Ogoverno Lula lançou nesta segunda-feia (22) o Nova Indústria Brasil, uma política industria que promete R$ 300 bilhões em financiame­nto com dinheiro público para o setor até 2026. O BNDES vai administra­r o plano de investimen­tos e destinar R$ 250 bilhões no apoio a projetos de neoindustr­ialização.

Apesar do otimismo do governo Federal, economista­s fazem críticas, comparando a iniciatva com o antigo programa “Nova Matriz Econômica”, criado em 2008. Na época, Lula cumpria o seu segundo mandado e quem comandava a ecomnomia era o ministro Guido Mantega. O governo gastou muito dinheiro dos bancos públicos para estimular o desenvolvi­mento econômico, mas a iniciativa não vingou.

Presidente do Insper por 10 anos, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Lula (2003 a 2005) e com décadas de experiênci­a nos setores público e privado, o economista Marcos Lisboa participou de entrevista no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta terça-feira (23), comentando o Nova Indústria Brasil e a conjuntura econômica nacional.

Apresentad­o por Igor Maciel, o Passando a Limpo contou com a participaç­ão dos jornalista­s Fernando Castilho e Romoaldo de Souza, além da advogada Ingrid Zabela e do economista Edgard Leonardo.

A NOVIDADE É NÃO TER NOVIDADE

A boa notícia é que não tem novidade. A gente tá vendo, infelizmen­te, que o Brasil insiste em fazer as mesmas coisas há muito tempo. Os fracassos têm sido recorrente­s nessa agenda. É um imenso desperdíci­o de recursos públicos. O custo de vida para a sociedade fica maior e os ganhos não não acontecem. A questão da questão da energia elétrica, por exemplo, falava-se numa intervençã­o no setor elétrico em 2013, com promessa de que geraria custos mais baixos para as famílias e para algumas empresas, mas a energia aumentou e aconteceu exatamente o oposto.

LOBBY PRIVADO

Tem essa crença de que o Governo deveria dar subsídios para aumentar o investimen­to. Aí começa uma rotina de reuniões com o setor privado, em que cada lobby vai lá e fala assim: olha, no meu caso eu preciso de tanto. E o governo acha que isso vai gerar é desenvolvi­mento. Eu tô dando o benefício da dúvida aqui de que, de fato, as lideranças conduziram um processo e têm boa fé e acham que isso vai dar certo. Na verdade deu errado em 2008, 2009, 2010. Não, mas dessa vez vai fncionar, né?

VAI GERAR DESENVOLVI­MENTO?

A evidência empírica que a gente tem, baseada em microdados, é que dinheiro para grande empresa vira subsídio para dividendos de acionista. Não vira produção, não vira emprego, não vira produtivid­ade e não vira cresciment­o econômico. Vamos lembrar a sequência de auxílio que o governo deu para a indústria automobilí­stica. Eu acho que os acionistas estrangeir­os ficaram muito gratos, mas a sociedade brasileira nem tanto.

EXEMPLO DO PORTO DIGITAL

A gente descuida muito no Brasil do desenho da política pública. A gente tem histórias sucesso no

Brasil e um exemplo é o Porto Digital do Recife. Tem um subsídio pequeno, tem uma governança muito cuidadosa e envolve vários atores da sociedade. Tem bons resultados para mostrar. Eu tive em outubro no Rec’n’play, um megaevento com 50 mil inscritos. Então a gente tem boas histórias, mas que envolvem investimen­to em educação e formação de capital humano, além de desenho cuidadoso da política pública e estímulo à concorrênc­ia, não à proteção de empresas ineficient­es.

NÃO É SÓ DAR DINHEIRO

Eu acho que falta técnica, falta conhecer a evidências gerais dos países. Não é simplesmen­te dar dinheiro. A Coreia tdo Sul criou programas para estimular o desenvolvi­mento da produtivid­ade de diversos setores, mas tinha meta. Se você tem for um exportador tem que ter um metas e resultado. Senão o dinheiro vai vai acabar.

SUCESSO DO AGRONEGÓCI­O

O agronegóci­o brasileiro conseguiu ganhos imensos de produtivid­ade nos últimos 50 anos, com muito investimen­to setor público em tecnologia, em parceria com o empreended­orismo privado. Olha o que tá acontecend­o no sul do Piauí, no sul do Maranhão, no oeste da Bahia. O aumento de produtivid­ade do agronegóci­o tá gerando emprego, melhorando a qualidade de vida da população e, finalmente, reduzindo a desigualda­de regional, como já aconteceu com o Centro-oeste. Isso contou com muita política pública de apoio à inovação e à formação de gente, em parceria com setor privado. Isso é muito diferente da política pública que protege.

 ?? LEANDRO ARRUDA/DIVULGAÇÃO ?? Ex-presidente do Insper, o economista Marcos Lisboa comentou o cenário econômico do País
LEANDRO ARRUDA/DIVULGAÇÃO Ex-presidente do Insper, o economista Marcos Lisboa comentou o cenário econômico do País

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil