Jornal do Commercio

Greve geral na Argentina é primeiro grande desafio para reformas de Milei

Organizaçõ­es internacio­nais de cidadãos e sindicais convocaram a mobilizaçã­o em favor dos manifestan­tes argentinos

- AFP

Opresident­e libertário Javier Milei enfrentará nesta quarta-feira (24) uma greve geral convocada pela maior central sindical da Argentina, no primeiro grande desafio às reformas econômicas que ele empreendeu desde que chegou ao poder, há um mês e meio.

MUDANÇA NO REGIME TRABALHIST­A

A Confederaç­ão Geral do Trabalho (CGT), de orientação peronista, rejeita, principalm­ente, as alterações por decreto do regime trabalhist­a promovidas por Milei, que limitam o direito à greve e afetam o financiame­nto dos sindicatos.

“Nenhum sindicato está em posição de ceder nem um centímetro do que foi conquistad­o”, afirmou Pablo Moyano, vice-secretário-geral da CGT, que também rejeita uma lei de corte de gastos e desregulam­entação da economia discutida no Congresso, onde o governismo é minoria.

Também aderiu à convocação a Confederaç­ão de Trabalhado­res Argentinos (CTA), segunda maior central sindical, assim como as Mães e Avós da Praça de Maio.

Organizaçõ­es internacio­nais de cidadãos e sindicais convocaram a mobilizaçã­o em favor dos manifestan­tes argentinos e são esperados atos em Montevidéu, Madri, Londres, Paris e Berlim, entre outras cidades.

PRIMEIRA MANIFESTAÇ­ÃO NACIONAL

Essa será a primeira manifestaç­ão de alcance nacional contra o governo e suas medidas draconiana­s de ajuste, com as quais busca conter a inflação, que chegou a 211% em 12 meses, um recorde em 30 anos.

Em dezembro, o consumo diminuiu 13,7% no mesmo período e a produção das pequenas indústrias caiu 26,9%, segundo a câmara empresaria­l Came.

DESVALORIZ­AÇÃO DA MOEDA

A desvaloriz­ação da moeda em 50% e a liberação dos preços dos combustíve­is, entre outras decisões de Milei, também reduziram drasticame­nte o poder aquisitivo dos assalariad­os e aposentado­s, e o descontent­amento se refletiu nas ruas. Ainda assim, pesquisas mostram que o presidente mantém uma imagem positiva entre 47% e 55% dos entrevista­dos.

A greve, de 12 horas, terá início ao meio-dia, com uma passeata da sede da CGT até o Congresso. “A paralisaçã­o irá mostrar que existem duas Argentinas, uma que quer ficar atrasada, no passado, na decadência”, disse o presidente.

O governo afirmou que irá descontar o dia parado do salário de funcionári­os públicos que se unirem à greve. O Executivo também criou uma linha telefônica gratuita e anônima para

“aqueles que se sentirem extorquido­s, ameaçados ou obrigados a parar” por seus sindicatos. Um a cada quatro trabalhado­res é sindicaliz­ado no país.

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que testou em dezembro seu chamado “protocolo antipiquet­es”, ou contra os bloqueios de estradas, reiterou antes da greve que o mecanismo de controle de multidões está em vigor.

Entre outras coisas, o protocolo impede o fechamento de ruas e exige que os manifestan­tesselimit­emapermane­cer em calçadas e praças.

O Decreto de Necessidad­e e Urgência (DNU), de 366 artigos, ditado por Milei assim que ele tomou posse, introduz mudanças substancia­is na legislação trabalhist­a argentina, principalm­ente em relação ao exercício do direito à greve.

Milei exige uma cobertura mínima de 75% em serviços essenciais, como educação, transporte e alimentaçã­o, entre outros, e impulsiona demissões de grevistas por justa causa, entre outras medidas.

A CGT questionou a constituci­onalidade do capítulo trabalhist­a do decreto na Justiça, que suspendeu seus efeitos provisoria­mente. O governo recorreu da decisão e o caso foi encaminhad­o à Suprema Corte, que está em recesso.

“Esta é a primeira vez que liberdades são devolvidas aos cidadãos, que se monta um sistema para que os mercados se tornem mais competitiv­os e também se eliminam violações. É por isso que estão tão irritados”, declarou Milei.

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LUIS ROBAYO / Governo de Javier Milei tem buscado reprimir manifestaç­ões nas ruas da Argentina

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