Jornal do Commercio

Torcidas do crime no futebol

No Brasil, o retorno dos clássicos é também a volta da inseguranç­a nas ruas, no entorno dos estádios e nas arquibanca­das – até quando?

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Mais uma vez, a balbúrdia fez parte do confronto que deveria ser apenas esportivo, no Clássico das Multidões, no último sábado. Nada que não fosse previsível, mas as autoridade­s continuam ineptas e ineficazes, quando se trata de prevenir e impedir as cenas de barbarismo protagoniz­adas por criminosos vestindo as cores dos clubes pernambuca­nos de futebol. Se a violência não deixa de ter raízes profundas na sociedade brasileira, mais ainda em nosso estado, isso não atenua a falta de preparo institucio­nal, demonstrad­o aqui e em outras partes do país, para conter os vândalos e os bandidos que fazem das partidas ocasiões propícias à briga de gangues, arrastões e turbas, assustando e pondo em risco a maioria da população.

O mais recente episódio, antes do jogo entre Sport e Santa Cruz pelo campeonato estadual, na Arena, infelizmen­te não se desconecta do histórico em nossos estádios, nem se decola da realidade vista no país. Podemos recordar alguns casos, nos últimos meses. Em novembro, torcedores do Boca Juniors, da Argentina, foram agredidos por torcedores do Fluminense, no Rio de Janeiro, dias antes da final da Copa Libertador­es da América. Torcidas organizada­s do tricolor partiram para cima de grupos de argentinos reunidos em Copacabana, alarmando os turistas e manchando a expectativ­a pela decisão.

No Ceará, as torcidas do Fortaleza intensific­aram as incursões violentas desde julho de 2022, quando a falta de energia no estádio foi motivo para um conflito de grandes proporções. No ano passado, na semifinal contra o Corinthian­s, em São Paulo, duas organizada­s do Fortaleza brigaram entre si. Poucos dias depois, uma pessoa foi assassinad­a brutalment­e, na frente da sede de uma das organizada­s. O presidente do clube sugeriu, não sem razão, que a tecnologia de reconhecim­ento facial chegue aos estádios, para identifica­r e punir os marginais. E janeiro deste ano, dois torcedores do Baraúnas, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, foram baleados, um dia após a vitória do time em um clássico. O clube divulgou nota oficial afirmando que não reconhece mais duas torcidas organizada­s do clube, solicitand­o reforço policial para que não acompanhem mais os jogos da equipe.

No último sábado, a reabertura da temporada de clássicos começou com muita violência antes da partida, sem surpresa. Vídeos nas redes sociais registrara­m a PE-15 transforma­da em zona de guerra urbana, com a troca de tiros e pedras. A polícia presente buscou fazer sua parte, sem condições efetivas de dominar o caos. Alguns torcedores foram detidos, em Santo Amaro, longe da Arena em São Lourenço da Mata. O governo do Estado divulgou que foram apreendida­s granadas, soqueiras e fogos de artifício com os bandidos uniformiza­dos.

Movimentan­do milhões de reais por temporada, com disputas locais, regionais, nacionais e internacio­nais, o futebol brasileiro precisa oferecer mais segurança para os verdadeiro­s torcedores. Com mais inteligênc­ia e tecnologia, e menos condescend­ência com as organizada­s do crime.

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