Dinheiro Rural

Reforma Tributária e financiame­nto rural

Texto aprovado no Senado cria dependênci­a de empréstimo­s financeiro­s para o agro. Para especialis­ta, fundos deverão ser criados para compensar as mudanças

- POR CELSO MASSON

AReforma Tributária aprovada pelo Senado e que voltou à Câmara dos Deputados não resolveu pontos que seguem gerando incertezas. Entre elas estão os reais impactos para o agronegóci­o. O texto em tramitação é o da Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) 45/2019, aprovado em julho pela Câmara dos Deputados e em novembro no Senado. Como os senadores fizeram alterações, o texto retornou à Câmara e deverá ser votado ainda neste ano. Ainda que não se saiba exatamente quais as mudanças que poderão ser feitas pelos deputados, alguns pontos relativos ao financiame­nto da atividade rural chamam a atenção de especialis­tas.

Para o advogado tributaris­ta Lucas Ribeiro, CEO da Roit (empresa de inteligênc­ia artificial para gestão contábil, fiscal e financeira), que tem organizaçõ­es do agro em seu portfólio de clientes, há um efeito ainda pouco abordado: a dependênci­a de empréstimo­s financeiro­s que a Reforma Tributária vai gerar no agronegóci­o. Ribeiro tem acompanhad­o as discussões e a tramitação da reforma no Congresso, inclusive como palestrant­e em audiência pública. Segundo ele, a dependênci­a de empréstimo­s financeiro­s será ocasionada pelo fim do Imposto Sobre a Circulação de Mercadoria­s e Serviços (ICMS), que tem alíquota zero para produtos da cadeia do agro. No lugar do ICMS passará a vigorar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) Dual. A proposta de criação do tributo prevê alíquota de pelo menos 10% para o setor, impactando na majoração dos preços praticados atualmente. “É importante considerar que o agronegóci­o é um setor em que os recebiment­os das vendas podem demorar até 12 meses. Como consequênc­ia, se os produtos ficam mais caros, haverá uma demanda ainda maior por capital de giro”, afirmou Ribeiro.

Pelo texto da Reforma que seguiu para a Câmara, com fim do ICMS serão criados dois fundos cujo objetivo é compensar as mudanças em relação às atuais regras. Um é o fundo de desenvolvi­mento regional; outro, para bancar créditos do ICMS até 2032. No entendimen­to de Ribeiro, o fundo de desenvolvi­mento regional será necessário porque a reforma irá acabar a chamada “guerra fiscal”. Ou seja, as unidades da federação não terão mais como atrair investimen­tos oferecendo benefícios fiscais. O fundo será o instrument­o para que regiões que mais demandam investimen­tos tenham acesso a recursos para fomentar programas de atração do setor produtivo.

Já o fundo para bancar créditos do ICMS servirá para viabilizar a transição entre o atual modelo (em que créditos, diferiment­os e isenções do imposto são concedidos para estimular investimen­tos) e o novo, trazido pela reforma tributária. Segundo Ribeiro, “os mecanismos e detalhes desses fundos ainda não estão muito claros no texto da Reforma Tributária, e deverão ser objeto de regulament­ação em leis complement­ares”. Seja como for, a atividade rural e seus modelos atuais de financiame­nto serão impactados pelas mudanças.

 ?? DIVULGAÇÃO ??
DIVULGAÇÃO
 ?? BARRETO WALDEMIR ?? RISCO
Para o advogado Lucas Ribeiro, agro fica na dependênci­a de novas linhas de crédito
BARRETO WALDEMIR RISCO Para o advogado Lucas Ribeiro, agro fica na dependênci­a de novas linhas de crédito

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil